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Não é o animal, é a vida

 

Um dos lugares mais curiosos de Paris é o Le Cimetière des Chiens, o Cemitério dos Cães, situado nos arredores da cidade, no subúrbio de Asnières-sur-Seine. Esse cemitério foi criado em 1898 por decreto da prefeitura. Desde então, mais de 40 mil animais foram ali sepultados: cães, naturalmente, mas também gatos, peixes, macacos, ratos, cavalos e um leão. O lugar é belíssimo, como se constata desde os elegantes portões, em estilo art nouveau. Lá dentro, à sombra de árvores copadas, estão os túmulos, milhares deles, alguns adornados com esplêndidas esculturas dos animais mortos. E os epitáfios são por vezes comovedores, falando com profundo afeto e gratidão dos animais mortos.


Afeto e gratidão explicáveis. Em nosso mundo (e a Europa é um exemplo eloqüente), os animais desempenham um papel importante, sobretudo por causa da solidão. Muitas pessoas, vivem sozinhas e, para elas, cães, gatos, pássaros, são companheiros. A presença do animal de estimação tem reflexos na saúde, comprovados inclusive nos trabalhos científicos. Um estudo de pacientes hospitalizados por problemas cardíacos mostrou que a sobrevivência daqueles que tinham bichos de estimação era cinco vezes maior. Donos de animais têm menor necessidade de consultar médicos e gastam muito menos com remédios. Isso corresponde aos efeitos fisiológicos e psicológicos da presença do animal, que neutraliza o estresse, diminui os níveis de pressão arterial e até, segundo pesquisas, resulta em níveis mais baixos de colesterol. Não é de admirar que hoje se fale em "pet therapy", a terapia pelo animal de estimação. O primeiro teórico do assunto foi o médico americano Boris Levinson, que, por volta de 1960, começou a usar animais no tratamento de seus pacientes. Em 1977, foi fundada, nos Estados Unidos, a Delta Society, que fornecia animais para essa finalidade, e a partir de então esse tipo de terapia cresceu vertiginosamente. Não importa o tipo de animal: cachorro, gato, peixe. Existe até um robô japonês, uma foca chamada Paro, desenhada especialmente para esse fim. Paro não só se movimenta como pode expressar surpresa, alegria, felicidade - e reconhece palavras em sete idiomas.


O que buscamos nos animais? A resposta é simples: neles, buscamos a vida. Uma vida diferente da nossa (nem tanto, dirão os fãs de cães e gatos) mas vida, de qualquer maneira. Ao invés do silêncio, o alegre latido do cão. Ao invés da fria solidão, o calor de um corpo. Coisas muito simples e muito básicas. A vida nos adoece, mas a vida - humana ou animal - também nos cura. É simples assim.


Zero Hora (RS) 26/1/2008