A posição inferior a que a mulher foi sujeita ao longo dos tempos impediu que ela pudesse participar inteiramente da comunidade, em que tinha um papel específico de amante e de mãe que não deveria ultrapassar. Do ponto de vista literário, por exemplo, o mundo antigo, com exceção de Safo, mostrou-se omisso no permitir destaque feminino em poesia ou prosa. Claro que houve, ainda, figuras que entraram na história, não só a de Joana D'Arc, como também, na literatura medieval, a holandesa Béatrice de Nazareth e Heloísa, além de outra Beatriz, de Antuérpia, que deixou vários poemas de amor.
Foi com as mudanças levantadas pelo século XIX que a mulher passou a ter um lugar em profissões tidas como exclusivamente masculina, como as de médicos e advogados. Neste já mais avançado século, pelo menos em teoria, o XXI, podemos achar que muito se avançou, mas sabemos que ainda estamos longe do ideal. Daí, a importância de um livro como o de Maria Tereza Maldonado e Mariana Maldonado (mãe e filha), intitulado "Palavra de mulher: histórias de amor e de sexo".
Maria Tereza é psicóloga e Mariana é ginecologista. O livro, que as duas assinam, é uma pequena bíblia do relacionamento familiar. Sabemos que é preciso melhorar a condição da mulher no mundo. Sabemos todos, nos meios em que vivemos, e na vasta demonstração que a mídia em geral, de qualquer país, mostra, de que maneira vive a mulher, tanto no trabalho como na vida familiar, tendo de enfrentar a agressividade, a incompreensão, a violência, muitas vezes com perigo de vida. Desde os tempos da liberação sexual provocada pela pílula, a situação, ao invés de melhorar, piorou. A violência contra a mulher, muitas vezes psicológica, e sempre seguida de maus-tratos físicos, causadores de deficiências pessoais e de morte.
O livro "Palavra de mulher: histórias de amor e de sexo", analisa aspectos dessa realidade permanente, que atinge também a saúde mental e reprodutiva da mulher.
Maria Tereza e Mariana apresentam, ainda, uma série de depoimentos normais da vida de um casal. Ter ou não ter filhos. Usar pílula sempre ou deixar de usá-la. Há maridos que não querem nem ouvir falar em filhos, seja por motivos econômicos ou outros quaisquer. Há mulheres que sofrem por não ter filhos.
Todos os dramas e problemas de um casal podem chegar ao consultório e é aí que a psicóloga, a sexóloga, a ginecologista, profissões hoje entregues a número maior de mulheres, ao invés de antigamente, quando médico particular era quase sempre homem, é aí que elas exercem o seu trabalho de ajudar a natureza a ser o que ela deve ser.
Dos muitos depoimentos que as autoras divulgam, a dúvida é permanente. Pergunta uma jovem, abandonada ou tendo ela mesma abandonado: "Será que ainda vou confiar em homem?" Outra: "Dizer que a mulher só se realiza com o casamento e com a maternidade é um mito que veio da época em que não havia alternativas atraentes." Outra ainda, solteira: "Ah, vivo estressada com as cobranças que chegam de todos os lados: dos pais, do namorado, das amigas ciumentas que reclamam que nunca saí com elas, da vovó que se queixa que não me vê há três meses. Gente, eu sou uma só: digo isso a todos e também a mim mesma".Trata o livro também das características básicas da "geração canguru". São pessoas que não querem sair da "bolsa materna" nem do ninho do lar por vários motivos.
O estudo termina com um belo poema das autoras chamado "Tempo de criar, espaço de viver, liberdade de amar". Eis alguns de seus versos: "Que você, mulher,/ possa amar e se deixar amar,/ respeitar e se fazer respeitar,/ apreciando e ser apreciada,/ deixando expandir-se/ dentro e ao redor de si/ a chama amorosa." Os versos finais do poema são: "Que toda mulher encontre/ dentro de si/ A Mulher e o Homem/ para lutar por direitos iguais/ respeitando as diferenças,/ descobrindo o poder de combinar/ suavidade e força,/ levando paz, harmonia e beleza/ na grande viagem da vida.// É preciso ser amiga do tempo/ para conquistar o espaço".
Palavra de mulher: histórias de amor e de sexo", de Maria Tereza Maldonado e Mariana Maldonado, é um lançamento da Integrare Editora, prefácio de Leila Linhares Barsted e Jacqueline Pitanguy, projeto gráfico e capa de Alberto Mateus.
Tribuna da Imprensa (RJ) 3/4/2007
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