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A morte do mal

 

Faz sessenta anos que um soldado do Exército Vermelho hasteou a bandeira sobre as ruínas do Reichstag, em Berlim, quase toda destruída pelos bombardeios, e se despediu do mundo que ele queria dominar o monstro Hitler, um desses seres humanos que, como se lê em Jó, no Velho Testamento, fora melhor não ter nascido.


Escrevi um livro sobre o mal na História, citando, expressamente, os totalitarismos do século XX, comunismo, fascismo e nazismo. Há sessenta anos foi morto o segundo. Mussolini já havia sido fuzilado e pendurado num posto de gasolina em Milão. Stálin iria depois e morreria na cama. Estava o mundo livre de três monstros, que deveriam ter prazer em praticar o mal.


No entanto, por mais incrível que pareça, o filme dos últimos dias de Hitler é um dos maiores sucessos de bilheteria dos últimos anos. Multidões afluem às bilheterias dos cinemas para verem a despedida do mundo que Hitler deu, depois de sua carreira meteórica, da modéstia de uma pintura de parede às culminâncias de dominar a Alemanha, seduzir profundamente seu povo, e atirá-la na guerra, que seria perdida, pois os Estados Unidos acabariam entrando na luta, para destruir completamente, como destruiu, o Terceiro Reich.


Reconheça-se que Hitler cometeu erros fatais, como o de invadir a Rússia, com seis milhões de homens colocados na fronteira da União Soviética, invasão que ele poderia deixar de fazer, pois Stálin não acreditou, de pronto, quando vieram lhe dar a notícia da estupidez de Hitler.


Não deixa de ser do maior interesse, porém, a leitura da biografia de Hitler, de autoria de Fest, tão completa quanto possível da máquina de guerra do Terceiro Reich e a capacidade dos generais alemães de conduzir à vitória os exércitos, como foi o caso de Stalingrado, cuja arrancada surpreendeu De Gaulle, quando de sua visita à União Soviética.


Mas chegou o momento em que os exércitos nazistas estavam esgotados e os americanos chegaram prontos para ganhar. Como ganharam a guerra, sob o comando do general Eisenhower, americano, que iria assinar a rendição dos vencidos.


A história da Segunda Grande Guerra do século ainda precisa ser escrita, não obstante a fartura de obras a respeito. O mundo ficará estonteado se ler, ao menos a minoria, que a guerra poderia ter sido evitada e os sofrimentos impostos aos europeus evitados, a destruição de riquezas sem conta poupadas, e as mortes de inocentes sem realização pelos bombardeios brutais da guerra total, que ninguém queria.


Enfim, a realidade é essa. Milhares de pessoas dirigindo-se aos cinemas, para verem morrer o tirano da Alemanha e a mão sinistra que roubou milhares de vidas de um futuro digno. O déspota pagou com a vida e outros milhões também morrerem sem ter culpa na loucura do responsável por tudo, tendo uma identidade desconhecida.


 




Diário do Comércio (São Paulo) 12/05/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 12/05/2005