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A morte de Josué

 

A morte de Josué Montello não me surpreendeu, mas muito me comoveu. Depois de minha eleição para ilustre companhia, eu e Josué tornamo-nos muito amigos, falávamos quase que diariamente pelo telefone, sendo a Academia um dos assuntos que ele conhecia. Josué foi um grande acadêmico, tinha a Academia na alma e na sua paixão.


Como intelectual Josué foi um dos mais operosos no Brasil, um dos maiores romancistas da Língua Portuguesa e deixa obras já clássicas como os Tambores de São Luís, Noite sobre Alcântara, O baile da despedida e tantas outras obras-primas. Como ensaísta, Josué deixa obras notáveis como O presidente Machado de Assis, Memórias Póstumas de Machado de Assis e outras. Era dono de um estilo literário cristalino, límpido, destes que tomam o leitor e o arrastam por todas as páginas até o fim. Esse era um dos seus segredos literários. Por sua projeção como escritor, por seus estudos, romances, artigos e ensaios, estará presente em todas as estantes dos que cultivam a grande literatura, na qual ele foi um mestre.


Quando ingressei na Academia, Josué insinuou-me que gostaria de me receber, mas o discurso de posse seria do ilustre confrade acadêmico Miguel Reale. Aconteceu o inesperado, em que o destino se manifestou. Miguel Reale teve que ser internado com urgência e o discurso de posse por ele escrito foi enviado a Josué com o pedido de lê-lo, como resposta ao meu na sessão de 26 de maio de 1992. Josué leu com admirável ênfase a lindíssima peça literária.


Josué Montello um dos maiores escritores modernos da Língua Portuguesa deixa soberbo acervo de obras que continuarão a ser lidas, pois os seus editores as têm em elevado conceito e valioso interesse. A sua cadeira na Academia será ocupada, mas como ocorre sempre nas mortes muito sentidas o seu nome continuará a brilhar nesse firmamento sublime que é ocupado pelos letrados de todos os gênios literários.


Adeus Josué, meu amigo.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 17/03/2006

Diário do Comércio (São Paulo), 17/03/2006