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Morcegos e estranhos

 

Nestes tempos de céu nublado, é um interlúdio que descansa a alma olhar as estrelas, vê-las na imensidão de não poder contá-las. Em Brasília, em tempos de céu de outono, as nuvens desaparecem e, nas noites de lua nova, há um céu cintilante, de luzes que se acendem e apagam, em que a vista não consegue fixar-se, pois tudo é mistério: escuridão e claridade numa contradição de clarões.


Do sonho ao feijão, na linha inversa de Orígenes Lessa, nossos céus estão destruídos pela explicação em que teimam os físicos de revelarem tudo. A cada dia destroem um pouco desse fascínio. Começou como impacto visual, quando a televisão mostrou aquele fantasma vestido de homem, Neil Armstrong, descendo na Lua. Como era misterioso o céu da minha infância em Pinheiro, as interrogações que cercavam as estrelas e a Lua, os abismos celestes, aquele vazio que era o nada, o nada que era tudo e tudo que era Deus.


"Todos os homens matam aquilo que amam", lamentava Oscar Wilde, acrescentando: "O covarde com um beijo, e o valente com a espada!". Esses físicos não fazem outra coisa. Quando não têm telescópio para comprovar o que pensam, começam a fazer contas, números, equações matemáticas, descobrem planetas, cometas e constelações e trazem imagens de nebulosas e de explosões que estão navegando há 13 bilhões de anos até chegar à Terra. Nossas cabeças não foram feitas para isso. Oliveira Viana, o grande pensador fluminense, infelizmente esquecido, dizia que a melhor coisa da realidade é a ilusão.


Já não estou suportando tantas pesquisas sobre o cosmo nem depoimentos em CPIs. São mistérios demais. Abro os jornais e lá está que os belgas descobriram um "buraco negro" sem-teto. Buraco negro é uma das vedetes dos astrônomos. É buraco negro para cá e buraco negro para lá. Até os astrônomos do Vaticano aceitaram a teoria dos tais. E, agora, descobriram um sem-teto, sem-matéria, exatamente como os que existem aqui na Terra e invadem prédios abandonados. E então se sabe que, no céu como na Terra, existem os sem-teto, os sem-terra, os sem-gás, os sem-mensalão e os com-mensalão. Tudo é "dédalo", como diria Jânio Quadros.


Na mesma direção, os jornais dão conta da descoberta de que uma certa espécie de morcego europeu, o Rhinolophus ferrumequinum - que nome esquisito -, é um tarado, perito em fazer sexo com a sogra. Abandona os filhotes, para voltar na época de acasalamento, perseguindo a sogra para fazer amor. Esse estudo é sério, está na revista "Nature", a mais afamada do mundo científico, foi feito em Gloucestershire e durou dois anos, de 2001 a 2002. Não se sabe para quê.


Nossos morcegos têm raiva de sogra, como os homens, que colocam nos caminhões do Nordeste que "feliz era Adão, que não teve sogra".


Enquanto isso, em Brasília, as estrelas caem e as nebulosas aumentam. Nesse oceano de mundos, estrelas e sogras, surge a maranhense Diana, beleza morena que desbanca Fernanda Karina e Maria Cristina, tornando-se a nova musa das CPIs e ainda tem nome de deusa: "a caçadora". Acteon foi espiá-la no banho e, como punição, foi atacado e morto por seus próprios cães.




Folha de São Paulo (São Paulo) 16/09/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 16/09/2005