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McCain entre a honra e o horror

 



Neste ano eleitoral inédito nos Estados Unidos avulta o maciço apoio da grande mídia à candidatura Obama. O "New York Times", o "Washington Post", o "Los Angeles Times", mantendo a neutralidade objetiva da informação, entremostram a simpatia pelo candidato democrata, marcado por um voto opção. Esta convicção mais se reforça, hoje, no teor da cobertura dada pela "Time" a McCain, nos dias da sua sagração como candidato do status quo. E, ao seu lado, a da absoluta confirmação da linha dura que assume o voto do GOT com o nome apontado para a Vice-Presidência.


Sarah Palin, Governadora do Alasca, é siderada por armas especialmente militares, caçadora, defensora da pena de morte. E, claro, na mesma consonância, condena o aborto, defende o horror de Guantánamo e a tortura como instrumento da segurança nacional.


Na ampla discussão da biografia de McCain, sabemos, agora, que foi o 848º aprovado entre 849 estudantes, na formação como cadete da Marinha; famoso pela boca suja entre os seus colegas, violento e insubordinado; agressor físico do presidente Bush na campanha eleitoral; envolvido em corrupção no famoso caso Keaston, que, há um lustro, galvanizou o poder do lobby no Congresso americano. Ao mesmo tempo, herói de guerra, num cativeiro altivo, faz da defesa da honra nacional o seu código de conduta política e eleitoral.


A pergunta que fica no ar é a desta falta dramática de escolha, que acuou a indicação de McCain contra Obama. A justificativa é um sentido de defesa de sua dignidade sanguínea, aos bofetões, numa visão especialíssima do brio corporativo, que não se pode confundir com o impulso ético e de justiça, que quer recobrir este apelo à violência desabrida.


A escolha de Palin só traz carvão para Cardiff, na Vice-Presidência. Oferece-se aos americanos uma chapa do mais contundente reacionarismo, apostando no mais inquietante dos futuros para a sucessão de Bush. É o da crença do pior fundamentalismo político e religioso, em que os Estados Unidos se vêem como defensores do cristianismo, a ponto de assumirem uma guerra de religiões e, sobretudo, de uma civilização do medo.


Abordado pelos republicanos, o simpático general Petreus, hoje Chefe das Forças americanas no Iraque, declinou da candidatura a Vice, justamente por ver a que impasse chegaria a continuação do bushismo entregue a McCain. O avanço das diferenças após as convenções retoma a liderança de Obama na opinião pública americana. É o que, dramaticamente, torna o terrorismo internacional o árbitro ainda de qualquer nova reviravolta, tanto se repita agora, em torno do 11 de setembro, agressão análoga à da queda das torres.


O discurso de encerramento da convenção de Denver, por Obama, foi o do estadista consciente de que a dimensão externa não é a decisiva, num país enclausurado no seu bem-estar e atento a qualquer ameaça de seus ganhos na bolsa. A nitidez da opção pode se estender ao plano interno, já, no que o democrata assegure um país da riqueza para todos e não da prosperidade, maior, sempre, dos super-ricos.


Jornal do Commercio (RJ) 05/09/2008

Jornal do Commercio (RJ), 05/09/2008