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Maratona e resiliência

 

Estive algumas vezes em Nova York no período em que lá se realizava a famosa e tradicional maratona. Numa dessas vezes, vi, afixado num gigantesco painel, a classificação dos corredores. Eram milhares, mas todos os nomes estavam ali, e também o lugar em que tinham chegado: o primeiro colocado, o segundo, o terceiro - e o último. Sim, havia um último lugar. E isso me impressionou. O que faz um corredor que está em último lugar numa prova, que já não tem mais ninguém atrás de si, esforçar-se para chegar à linha de chegada? Que energia move o maratonista?


Há um termo que atualmente se aplica muito a essa e outras situações: resiliência. Em física, resiliência é a propriedade que tem um material de, quando deformado elasticamente, absorver energia, que é liberada quando esse material volta à forma anterior. Do ponto de vista psicológico, resiliência é a capacidade que tem a pessoa de suportar o estresse e superá-lo. Portanto, resiliência não é apenas resistência, esta sendo considerada uma coisa passiva: agüentar o tranco estoicamente é resistência. Resiliência é isso e mais a capacidade de se reestruturar e de crescer emocionalmente como resposta ao desafio e à crise, com aumento inclusive da auto-estima. E auto-estima é coisa importante na maratona, que é uma competição muito peculiar. Claro, existem aqueles que podem ser considerados adversários, os outros corredores. Mas os corredores de longos percursos freqüentemente correm sozinhos, e o fazem de forma intensamente concentrada como a gente pode constatar, observado a fisionomia deles. Quem é o adversário do corredor solitário? É aquela outra pessoa que ele tem dentro de si, e que repete constantemente, numa vozinha debochada, irritante: você não conseguirá. É o estresse, ao qual o maratonista responde com a resiliência. Diz o maratonista inglês Gareth Hopkins que a corrida é uma oportunidade para se crescer como pessoa.


É um exagero comparar a vida a uma maratona? Não, não é. Na verdade, é até uma metáfora constantemente usada. Viver é correr (mesmo quando ficamos presos no trânsito). Viver é se estressar. Mas assim como precisamos de resiliência para a maratona, precisamos de resiliência na vida. Que o estresse nos atinja, que nos impregne com uma energia negativa, tóxica, é normal. Mas precisamos aprender a voltar à nossa forma, eliminando de nós os eflúvios negativos. Precisamos prosseguir rumo à nossa meta. Se somos dos primeiros ou dos últimos, não importa. O que importa é chegar lá.


Zero Hora (RS) 24/5/2008