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Mantendo a forma

 

Não é raro encontrar casais que se propõem a seguir um programa de exercícios físicos em conjunto, seja para passar mais tempo lado a lado, seja para ter uma companhia agradável durante a atividade. No entanto, conciliar preferências, aptidões e objetivos não é fácil. Um quer definir os músculos, o outro, apenas ganhar um pouco mais de condicionamento físico. Ao lado de uma pessoa extremamente competitiva, está outra que só quer relaxar no final do dia. Quando mal resolvidos, os conflitos podem desestimular e levar ao abandono da prática. Equilíbrio, 17 de dezembro


Aparentemente eles não tinham problema algum na vida: formavam um casal moderno, bem equilibrado, levavam uma vida confortável num excelente apartamento onde recebiam com frequência os numerosos amigos. Ele, advogado bem sucedido, ela, professora universitária de prestígio internacional, consideravam-se ambos realizados do ponto de vista profissional. Ah, sim, e não tinham problemas financeiros.


Mas algo os incomodava: o sedentarismo. Nenhum dos dois praticava atividade física. Frequentadores habituais de bons restaurantes, tanto ele como ela estavam com vários quilos a mais, o que a ambos aborrecia. Por outro lado, tinham de reconhecer que faltava-lhes persistência: começavam a fazer exercícios, mas acabavam desistindo. Um amigo aconselhou-os a exercitarem-se juntos, o que lhes pareceu uma boa ideia.


Mas foi aí que começaram os conflitos. Eles, que não discordavam em nada, descobriram que, nessa área, suas preferências não podiam ser mais divergentes.


Ela queria correr, ele queria caminhanhar; ela achava que meia hora de exercício por dia era suficiente, ele falava em uma hora ou mais. A certa altura decidiram matricular-se em uma academia e foi pior. Ela queria que ele ficasse a seu lado na esteira, ele preferia a bicicleta ergométrica diante da tevê. As discussões e as brigas se sucediam.


O amigo, a quem falavam sobre essas desavenças, disse que eles talvez necessitassem de uma pessoa que os orientasse, e que servisse, por assim dizer, como conciliadora. Ele conhecia um ótimo personal trainer; quem sabe eles o procuravam?


A sugestão não poderia ter sido pior. O personal trainer era um jovem atlético, bonito, simpático — mas, para o gosto dele, atlético demais, bonito demais, simpático demais. Começou a achar que a mulher estava interessada no rapaz. Mais discussões, mais brigas e eles acabaram por se separar.


Obviamente não havia nada entre ela e o personal, de modo que ficaram sozinhos, cada um em seu apartamento. Um dia, porém, e por acaso, encontraram-se numa festa. Voltaram a se falar, saíram juntos e terminaram a noite no apartamento dela.


Retomaram a vida conjugal e, segundo ele, num novo patamar: estão praticando intensivamente um tipo especial de atividade física, obrigatoriamente feita em conjunto, e para a qual nenhum equipamento é necessário, a não ser uma cama (e às vezes o chão também serve). Dado o entusiasmo dos dois, o gasto calórico é apreciável. Talvez por causa disso, ambos estão delgados e elegantes. Paixão emagrece. E deixa a pessoa em forma. Em forma emocional, pelo menos.


Folha de S. Paulo, 21/12/2009

Folha de S. Paulo,, 21/12/2009