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Mais autores ocultos

 

Na segunda-feira (12), falei aqui das parcerias musicais em que um dos autores, por ser o cantor, dar o nome ao disco e ter a foto na capa, engole sem querer o outro e acaba como o único autor. E citei Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Quantos sabem hoje que os grandes baiões de Gonzaga, como o pioneiríssimo "Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião...", são também de Humberto Teixeira, coautor das melodias e seu verdadeiro letrista?

O mesmo acontece quando um cantor, também famoso como compositor, se torna sem querer o autor de uma música de que não fez nem a música nem a letra, mas apenas a gravou. E por que não haveria essa confusão, se ela é do seu estilo e bem podia ter sido composta por ele? Todos conhecem o samba-boogie "Chiclete com Banana" (1959), de Jackson do Pandeiro. Pois não é de Jackson, mas do baiano Gordurinha. E o xaxado-bossa nova "Pau-de-Arara (O Comedor de Gilete)" (1964), que todos julgam de Ary Toledo? É de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes.

"Sem Compromisso", que Chico Buarque gravou em 1974, não era de Chico, mas de Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro, em 1944. Assim como "Doce Veneno" não era de Paulinho da Viola, mas do fabuloso Valzinho, em 1945. Dois grandes sambas que eles trouxeram do passado.

"Simples Carinho" (1982) não é de Angela Rô Rô, mas de Donato e Abel Silva. "Maracatu Atômico (1974) não é de Gilberto Gil, mas de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Em compensação, "Soy Loco Por Ti America" (1967) não é de Caetano Veloso, mas de Gil e Capinam. "Beatriz" (1982) não é de Milton Nascimento, mas de Edu Lobo e Chico Buarque. E "Pro Dia Nascer Feliz" (1983) não é de Ney Matogrosso, mas de Cazuza e Frejat, assim como "Homem com H" (1981) também não era de Ney, mas do menos famoso Antonio Barros.

Bem, como todas essas gravações chegaram aos píncaros, talvez eles fossem mesmo os intérpretes perfeitos para elas.

Folha de São Paulo, 17/02/2024