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Lula e a tentação do segundo turno

 

Lula distanciou-se das eleições municipais, deixadas cuidadosamente aos palanques locais, e à emergência de novas lideranças para o Brasil de após o mensalão, o Bolsa-Família e a chegada dos excluídos aos supermercados.


A tentação de ultimíssima hora foi abater o jogo ganho, e mais que ganho, da Prefeita de Natal, Micarla de Souza. Mas, o PT não volta à tona como esperado, neste quarto lugar na eleição dos novos alcaides, com menos de metade do PMDB, árbitro do novo situacionismo pré-campanha presidencial. Tal não impede que tenha crescido em 33% o seu número de Prefeitos.


Nem cabem as loas a uma onda Serra, puxando um arranco das oposições. Não se alvoroce, com o êxito de Gabeira no Rio, em que o PSDB pegou carona numa candidatura genuinamente carioca e multipartidária. E nada prisioneira da Zona Sul, ao contrário do que previa o Ibope na subestimação grosseira da sua força de votos.


A vitória de Kassab, por outro lado, se deu mais que um susto a Marta, não é uma festa das oposições em que o DEM, e não o PSDB, entra como dono improvisado da vitória. O que está em causa é a nova maturidade política brasileira, que a partir do chão tangível do Município premia a administração eficiente por fora das siglas e não se alvoroça mais pelos populismos arcaicos. Ganha esta consciência democrática que começa a saber o que compete a cada nível de governo. E, nesta mesma arena, assenta uma nova geração de lideranças. Nesta visão de eficácias, instalou nas Prefeituras candidatos das siglas nominalmente mais radicais, ou que ganharam, independentemente do apoio de seus partidos, como o desta estupenda vitória petista da Prefeita de Fortaleza.


Na varredura do avanço político deste 5 de outubro, lá se foram de vez, as expectativas nostálgicas dos restos do Carlismo na Bahia, de par com o avanço, de vez, de Jacques Wagner no Estado nordestino até hoje mais arredio à grife petista. Os prefeitos amplamente ganhadores, como os de Curitiba, Vitória, Goiânia, ou Aracaju, recortam, por sua vez, um baralho partidário que se auto-anula em qualquer perfil dominante. Ganham, sim, condições políticas, para forçar a cooperação do Estado e da União, dentro da visão adulta do processo federativo, a que Lula hoje abre caminho, pelas reformas tributária e política, a serem levadas ao Congresso antes do próximo pleito.


Levanta-se agora a nova tentação do Presidente. Atuará no segundo turno com a mesma distância? Ou vai se expor, pelo menos, àqueles mínimos acenos, de que pode depender a vitória de Marta em São Paulo, o deslinde da vitória de Aécio em Belo Horizonte, ou o sucesso do candidato do neo aliado Sergio Cabral no Rio?


De toda forma, as eleições já se encarregaram de descartar todo o populismo evangélico no abate de vez de Crivela, de par com o abandono da chance do PT como partido, por agora, refletir o comando nacional do Presidente. Não escaparemos das mais clássicas das coalizões para as futuras governanças. Mas Lula só tem à frente, nos seus jogos feitos de futuro, lideranças que são o resultado do sucesso de seu governo, muito mais do que da fidelidade ao seu partido.

 


Jornal do Commercio (RJ) 10/10/2008

Jornal do Commercio (RJ), 10/10/2008