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Lavando as mãos

 

Confesso que, só agora e graças à ameaça do coronavírus, aprendi a lavar as mãos corretamente, passando a esfregar água e sabão na palma e no dorso, entre os dedos, nas unhas e até no punho. Também passei a espirrar e a tossir protegendo o nariz e a boca não com o lenço, e sim com o braço dobrado, numa posição meio incômoda, mas que impede que as gotículas atinjam o interlocutor. Estou disposto mesmo a usar máscara sanitária protetora, se for preciso.

Pelo que sei, as pessoas estão fazendo o mesmo, até porque, coisa rara, em se tratando de ação governamental, o ministro da Saúde está conduzindo com competência e serenidade essa fase difícil que nós e o mundo estamos vivendo. Como disse o doutor Drauzio Varella, o trabalho de Luiz Henrique Mandetta orientando a população tem sido “impecável”. Já o presidente tem “lavado as mãos” no sentido figurado, ou seja, não tem tomado conhecimento do problema. Vai ver que é por isso que a campanha tem dado certo.

De todas as precauções recomendadas contra o contágio, a mais difícil de ser obedecida será a de evitar o contato físico como os simples beijos no rosto (na boca nem pensar) e os abraços. Os chineses, com certeza, não tiveram esse problema, já que a cultura oriental permite que eles se cumprimentem por gestos à distância, inclinando a cabeça em reverência, sem se tocarem. Até os alemães estão tendo alguma dificuldade. Foi muito divertida a cena em que um ministro se nega a apertar a mão da chanceler Angela Merkel. Os dois acabaram rindo da situação.

Quanto a nós, brasileiros — principalmente os cariocas —, expressamos nosso afeto ou simpatia por meio de abraços e beijos. Sábado, num jantar na casa de amigos, os casais chegaram respeitando o novo código, dando adeuzinhos de longe e jogando beijinhos. Mas na despedida alguns tiveram que ser lembrados das novas regras. Eu, por exemplo.

Aliás, não sei o que será de mim. Como diz minha mulher, beijo homem, criança, desconhecido e até cachorro na rua. Há um certo exagero na última afirmação. Alguns recusam latindo.

Li que em Paris está na moda o “Corona kiss”, o beijo à distância. Será que aqui vai pegar?

O Globo, 04/03/2020