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a grande ausente

 

No Brasil, nunca a política externa fez parte da política interna. As relações internacionais estão, na maioria das vezes, ao nível de relações diplomáticas, bilaterais e quando muito uma quermesse de reuniões em que predominam os comunicados finais.


 


O mundo vive um instante contraditório. É o mais longo período de crescimento da economia, da revolução da informática, e por outro lado uma liderança unipolar onde os Estados Unidos exercem uma liderança incontrastável e incontestável. Desenham-se vários cenários futuros perguntando se essa liderança se consolida numa estratégia de gigantesco crescimento econômico, perde substância dividindo o poder com a China, Europa unificada incluindo a Rússia, ou se teremos uma outra solução traumática para surgir uma ordem mundial multipolar.


 


A China e a Índia com um crescimento em níveis altos constituirão economias de primeira linha, com algumas profecias de que até o ano 2015 podem igualar-se aos Estados Unidos.


 


A América Latina vive um momento de contorção com alguns sinais de recuo no processo da integração. O México e a América Central desgarram-se para através do Nafta (o Tratado de Livre Comércio) terem economias satelizadas com os EUA. Resta a América do Sul, com problemas sérios de inserção na globalização, e aí vem o Brasil com a difícil tarefa de consolidar sua liderança sul-americana. Para isso precisa crescer, melhorar suas condições internas de segurança e justiça social, enfim, preparar-se para ser um interlocutor com influência nas decisões mundiais.


 


O processo de integração, concebido através do Mercosul, está em fase de estagnação e com uma tendência a politizar-se - o que é um mal irreparável. Quando nós o concebemos, a única cláusula política era de que os integrantes fossem países democráticos.


 


Outro fator mais que importante para a América do Sul é a característica de ser um subcontinente pacífico, livre de corridas armamentistas e de armas nucleares. Durante meu governo, por proposta nossa, foi declarada pela ONU a Zona de Paz do Atlântico Sul. Agora, com o desejo da Venezuela em tornar-se potência militar, esse equilíbrio pode romper-se e o Brasil não pode deixar suas Forças Armadas em situação de inferioridade, sob pena de alienarmos a soberania nacional.


 


Sob esse quadro, até hoje, no meio da campanha presidencial, ninguém tratou de política externa. Como o Brasil deve inserir-se no contexto internacional e que estratégia adotará?


 


Esse tema é o grande ausente da campanha eleitoral.


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 01/09/2006

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 01/09/2006