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Galopando para o sucesso

 

MEC acha até cavalo como veículo escolar. Levantamento divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, ligado ao Ministério da Educação, mostra que até cavalos são usados para levar os alunos às escolas. Folha de São Paulo / Cotidiano, 20.abr.2005

A escola era longe, ficava a mais de dez quilômetros da humilde casinha em que morava, mas nem por isso ele deixaria de ir às aulas. Como a mãe, viúva e pobre, costumava dizer, aquela era a única chance que teria de ir para a frente, de progredir na vida.


Além disso, poderia, como outros alunos, contar com o transporte escolar gratuito.


Foi procurar o encarregado e pediu um lugar na Kombi que fazia aquele trajeto. O homem disse que, infelizmente, o veículo já estava lotado. Mas havia uma alternativa:


- Você pode ir a cavalo.


O cavalo era um velho pangaré que atendia pelo nome de Espantoso. O garoto não ficou muito entusiasmado. Como todo morador de área rural, sabia andar a cavalo, mas Espantoso não era exatamente o corcel de seus sonhos. Argumentou que com aquele animal levaria horas para chegar à escola. O homem manteve-se irredutível: é pegar ou largar, disse. Ele acabou aceitando.


No começo foi, realmente, muito difícil. Espantoso andava a passo pela estrada; ele chegava constantemente atrasado às aulas e, pior, sob o deboche dos outros alunos. E aí ocorreu algo inesperado. De repente ele descobriu um jeito de fazer o Espantoso correr. Uma coisa complicada, que envolvia um tipo particular de assobio, e cutucões com os pés na barriga do pangaré, mas que, decididamente, funcionava: o antes lento cavalo passou a voar pela estrada e não raro até ultrapassava a Kombi.


O garoto estava muito contente: não chegava mais atrasado, os colegas não riam mais dele. O que ele não poderia imaginar era que aquilo mudaria sua vida.


Na estrada ele passava sempre pela fazenda Corisco, propriedade de um rico criador de cavalos de corrida. Certa manhã este homem avistou o garoto, galopando velozmente e num grande estilo. Logo se deu conta: ali estava um jóquei nato, capaz de ganhar grandes prêmios em hipódromos. Foi falar com a mãe do menino e se prontificou a encaminhá-lo.


Deu tudo certo. Hoje ele é um excelente jóquei, ganha muitos prêmios. Deixou o colégio, mas pode ser que, um dia, volte a estudar. De momento esta não é a sua prioridade. De momento ele está, segundo suas próprias palavras, galopando para o sucesso.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 25/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 25/04/2005