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A extrema-direita desponta no Brasil

 

Deparamos, hoje, no país, uma concentração das direitas, bem para além da pregação de Bolsonaro. Os incidentes das últimas semanas, no ataque à vigília por Lula, em Curitiba, evidenciaram o novo grau de risco para o exercício da nossa cidadania. Vimos a passagem aos tiros, aos riscos de vida, no confronto do país fendido.

A novidade desses dias é a permanência do plantão de apoio, dia e noite, no voluntariado inédito, de presença e confronto, em nossas ideologias políticas. Tal vem de par com o anonimato, a trocar heróis da hora pela presença contundente de uma visão ideológica de nosso futuro. A contramedida é a deslocação de Lula - a se ver nos próximos dias – que não interromperá a continuidade da vigília, já toda voltada para o apoio, sem descanso, da sua liberação. 

Estamos às vésperas de uma polarização, em que o lulismo não vai sair das ruas e cobra a resposta das direitas. E não é sem razão que, nas últimas manifestações, a reminiscência, senão a convocatória, do velho integralismo volta ao desfile do sigma, no reforço, não obstante toda a distância, do dito “vis-à-vis” democrático e proclamadamente pacífico de Bolsonaro. O inédito é a salvaguarda dessa dita “descontaminação”, a tornar imprevisível todo o prognóstico do que seja essa possível massa, a integrar-se à nova onda internacional, que já vai ao esmagamento do Partido Socialista na França, ao reforço pelo radicalismo, nada nostálgico, dos saudosos de Hitler, com o governo centrista de Angela Merkel.

O avanço de tal radicalismo se fortalece se considerarmos o perfil apolítico de boa parte da nova geração de brasileiros, com 60% declarando que votarão em branco ou anularão seu voto. As facções emergentes, mais do que o reforço de novas alianças que amorteceriam a sua mensagem, confiam no longo prazo para o sucesso de sua proposta. 

A aposta vai toda à conquista de uma proclamada pós-modernidade, que envolve a crítica, sem volta, do atual capitalismo, a reformulação do movimento sindical e novos critérios para a redistribuição de riqueza. Implicará, num paradoxo final, o confronto do ideário do jovem Marx, com a pregação da maturidade, e do advento do comunismo. 

Mantendo fora da mídia as suas dimensões fundadoras, a nova extrema-direita não esconde, já, a sua interferência inesperada em diversos partidos emergentes para o próximo pleito.

Jornal do Brasil, 14/05/2018