A Warner —antiga Warner Brothers, o maior estúdio de Hollywood depois da MGM— está a leilão nos EUA entre forças poderosas. Seu controle por esta ou aquela tecno significará quase um monopólio da comunicação por quem se sair vencedor. O irônico é que em disputa está o presente da Warner —enorme, apesar da situação quase falimentar a que foi levada por fusões malsucedidas. Já seu passado, um patrimônio da cultura americana, será no máximo um bônus para quem levar a marca.
É uma marca com 102 anos de história, desde que os irmãos Harry, Jack, Sam e Albert Warner se estabeleceram em Hollywood em 1923. Da Warner saíram "O Cantor de Jazz" (1927), primeiro filme sonoro da história, com Al Jolson, os caleidoscópicos musicais de Busby Berkeley, os filmes de gângsteres com James Cagney, Edward G. Robinson e Humphrey Bogart, a fabulosa linha de desenhos animados com destaque para Pernalonga, os capa-e-espada com Errol Flynn, grandes dramas com Bette Davis e Joan Crawford, os musicais de Doris Day e clássicos como "Relíquia Macabra" (1940), "Casablanca" (1942), "O Pirata Sangrento" (1952), "Juventude Transviada" (1955), "Rastros de Ódio" (1956), "Um Rosto na Multidão" (1957), "Clamor do Sexo" (1962), "My Fair Lady" (1963), "Uma Rajada de Balas" (1967).
Como todos os estúdios, a Warner sangrou com a perda do monopólio de produção e exibição e teve de se diversificar. Investiu em televisão, jornalismo, futebol (dela nasceu o Cosmos, que contratou Pelé para o futebol americano) e música popular (com a gravadora WEA, que teve sob contrato João Gilberto, Tom Jobim, Gilberto Gil e um escrete de artistas internacionais). Em tudo, o empenho pela qualidade.
Mas as atuais tecnologias são outra coisa. A Warner há muito não é mais dos Warners, que, um dia milionários, hoje seriam pobretões diante dos magnatas das tecnos.
Quem vencer a guerra pela Warner ganhará de lambujem um espólio que, já tendo sido a sua razão de existir, será apenas moeda de troco para seus novos donos.