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A entrevista coletiva

 

A entrevista coletiva de Lula à mídia impressa e audiovisual não trouxe nenhuma novidade que não conhecêssemos, com a única diferença, de resto destacada nos jornais e no rádio e na televisão, foi a de que o presidente é unha e carne - expressão de mau gosto - com o ministro Palocci e com o presidente do BC, Henrique Meirelles.


No mais, o presidente sabe comunicar-se, tem esse dom que o favorece, mas não sabe criar notícias novas, como sabia Juscelino, como tinha essa faculdade o bizarro Jânio Quadros e outros. O que o ajuda, portanto, é saber comunicar-se. E é muito.


Mas, se refletirmos bem, chegamos à conclusão de que o presidente Lula não tem, mesmo, nada a falar, sem dar a entender ou dizer ostensivamente que se prepara para o pleito de 07, daqui a dois anos, como querem todos os petistas, sobretudo ao criarem para o presidente Lula o ambiente que o coloque por mais quatro anos. Ou, provavelmente, mais ainda, no poder do qual tanto o usufrui, com a volúpia dos novatos, a quem se proporcionou um brinquedo caro como o Airbus. No qual viaja tanto quanto pode.


Mas, se estivesse preparado convenientemente, o presidente tinha muito o que falar. Os juros estão na estratosfera, são dos maiores do mundo - ao que saibamos, os maiores - mais do que as republiquetas de bananas da América Central.


No dia seguinte à entrevista falou certo, quando disse que na sua opinião não há apenas a alta de juros para conter a inflação. Para um antigo torneiro mecânico que não se aprofundou em nada, apenas na arte de fazer eleição e comunicar-se o melhor possível com a massa de povo que o escuta e, no final o aplaude.


Enfim, o presidente tomou o tempo da mídia, uma página inteira dos jornais, e não deixou na memória dos que o ouviram ou leram ou o escutaram no audiovisual nada que devesse guardar-se para impor diretrizes de governo num governo ao qual faltam, exatamente, as diretrizes que Juscelino soube coordenar muitíssimo bem, ao ponto de ser o presidente mais realizador do pós-30. De Getúlio Vargas.


É que o presidente Lula não tem, para quem o observa no exercício do cargo mais alto da República, o que dizer para nós todos, insistimos no fato, e se dedica a pretender mostrar-se ao mundo como o líder dos emergentes. Essa foi a impressão que a entrevista nos deixou.


 




Diário do Comércio (São Paulo) 05/05/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 05/05/2005