Há dias, escrevi aqui que, ao perguntar à IA em que ruas Tom Jobim morou no Rio, ela me respondeu que Tom Jobim nunca morou nas ruas, mas em casas e apartamentos nas ruas tais e tais. Era só o que eu queria confirmar —o nome das ruas em que Tom morara. Mas a IA, levando a coisa ao pé da letra, informou-me que Tom nunca morara em situação de rua, o que todo mundo sabe. Aproveitei para dizer que, enquanto a IA for tão exata e burra, teremos alguma chance contra ela.
Horas depois, um leitor comentou que acabara de fazer a mesma pergunta à IA e ela respondera corretamente, dando apenas os endereços de Tom. Intrigado com isso, fiz o mesmo que o leitor e constatei que, de fato, a IA passara a dar a resposta certa. Ao ver a quantidade de leitores rindo da sua gafe, ela se corrigira. Esta é uma prova do seu potencial de perigo —diferentemente de nós, humanos, a IA é capaz de aprender com os próprios erros.
Continuo a pensar que, ao contrário do que apregoam, a IA não é infalível. Apenas como exercício, fiz-lhe há pouco uma série de perguntas e acredito tê-la embatucado —achei que, às vezes, vacilou nas respostas. Algumas: "Qual é o sentido da vida?"; "Há vida depois da morte?"; "O que é a consciência?"; "Como saber se o nada existe se não o vemos nem sentimos?"; "Se o passado passou e o futuro ainda não chegou, como pode existir o presente?"; "Como era o Cosmo antes do Big Bang?"; "Estamos sozinhos no Universo?"; "Se duas pessoas lerem a mente uma da outra ao mesmo tempo, que pensamento estarão lendo?".
E olhe que essas me pareciam fáceis. Em outras, sua resposta não me convenceu: "Onde estão os ossos de Dana de Teffé?"; "Por que pizzas redondas vêm em caixas quadradas?"; "Por que lavamos as toalhas de banho se já estamos limpos ao usá-las?"; "Onde estão os manuscritos de Shakespeare?"; "Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?".
Só houve uma pergunta a que a IA me pareceu dar uma resposta satisfatória. Perguntei: "Existe Deus?". E ela respondeu no ato: "Agora existe".