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Em busca da saída

 

Vejo com simpatia uma fórmula para tirar o país dessa confusão que propõe não ‘nós contra eles’, mas o diálogo, uma convergência em torno de alguns pontos em comum.

Para muitos — inclusive aliados do governo e sem falar na voz das ruas —, a saída para a presidente Dilma resolver a crise é a sua própria saída do governo, por iniciativa pessoal ou por impeachment, uma solução que tem um precedente muito lembrado, contra o qual, porém, além do risco do que viria depois, há o argumento de que Collor se apresentava com uma pesada carga de acusações e denúncias, enquanto a presidente Dilma não tem nada que a comprometa moralmente. Até os adversários, Fernando Henrique à frente, reconhecem sua honestidade. Por isso é que faz sentido a sugestão feita pelo petista Tarso Genro no programa “Preto no Branco”, de Jorge Bastos Moreno, domingo no Canal Brasil. Ele teme que a presidente não termine o mandato, e uma forma de impedir isso seria mudar a política econômica e evitar que o ajuste caísse “sobre as costas dos mais pobres”. Para ele, a solução da crise exige a participação dos ex-presidentes e até que já está “passando da hora de FH e Lula sentarem para discutir o país”.

Sem pertencer à OPA (Ordem dos Petistas Arrependidos, que conta com um time de membros ilustres), esse ex-prefeito de Porto Alegre, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Justiça de Lula, não teme criticar os desvios do seu partido, e o faz publicamente. Por ocasião do mensalão, disse que o PT chegara ao “fim de um ciclo”. E agora incluiu no mesmo elogio um adversário, ao afirmar que os dois brasileiros que citou, o líder dos petistas e o dos tucanos, “talvez sejam os mais importantes dos últimos tempos”.

Como pessoalmente gosto dos citados, já que não hierarquizo as pessoas nem política nem ideologicamente, e como sou contra o impeachment e a favor da conciliação, vejo com simpatia uma fórmula para tirar o país dessa confusão que propõe não “nós contra eles”, mas o diálogo, uma convergência em torno de alguns pontos em comum. Sei que vou ser chamado de ingênuo, porque o PSDB, segundo a repórter Daniela Lima, já está discutindo internamente que papel o partido desempenhará no caso de Michel Temer assumir no lugar de Dilma. Os tucanos acham que terão que participar de um acordo para dar sustentação ao eventual governo. A condição seria ele se comprometer em não disputar a reeleição.

Nesse caso, se eu for chamado de ingênuo, estou em boa companhia, a do experiente Tarso Genro, que ainda busca uma saída para a crise, quando a oposição já se prepara para receber Temer.

O Globo, 16/09/2015