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Economia da folia

 

Um dia, alguém calculará o quanto o Carnaval movimenta de recursos e de pessoal para acontecer. Se puder.

Tudo o que se vê, por exemplo, num desfile de escola de samba teve de ser fabricado por alguém. E esse alguém significa muita gente. As fantasias, envolvendo trajes, luvas, meias, sapatos, chapéus e perucas, saem dos croquis dos figurinistas, passam pelos desenhistas e chegam aos chapeleiros, cortadeiras, costureiras, bordadeiras e aderecistas. Sabe por que alguns trajes parecem espelhar a avenida? Porque são feitos de espelhinhos grudados ao tecido, cortados pelos espelhadores. Criado o protótipo de cada fantasia, ela é reproduzida às centenas, um modelo para cada ala, por um exército de artistas e artesãos.

E as esculturas nos carros alegóricos? Partem também de desenhos, que os escultores transformam em moldes de isopor, a golpes de faca, estilete e gilete, ralam (sim, como se fosse queijo), lixam, "empastelam" —aplicando-lhes uma espécie de mingau de farinha de trigo— e empapelam para que, finalmente, os pintores "de liso" e "de arte" lhes dêem as cores com que você as verá na avenida.

Os carros, seis ou sete por escola, com seus 10 m de comprimento, 10 de largura, 9 de altura, três toneladas de peso e andares, vigas, colunas, telhados e mobiliário, nascem de plantas como as exigidas para se construir uma casa. Daí serem montados com estruturas de ferro cobertas de madeira, para suportar o peso daquela multidão em cima. Não admira que cada carro exija 30 homens para empurrar.

E por aí vai. É muito trabalho. Multiplique o número de escolas pelo de componentes, some-o aos milhares de abnegados que organizam os blocos do Carnaval de rua, os músicos que animam os bailes, os ambulantes da cerveja, os milhões de litros de essência de eucalipto despejados para combater o cheiro de xixi nas ruas e veja o que a folia faz pela economia.

Folha de São Paulo, 10/02/2024