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Ecologia, Nordeste e bem comum

 

RIO - A ida de Lula à área de transposição das águas do São Francisco dá conta, ao mesmo tempo, do nível no próprio Nordeste de desconhecimento da obra e mesmo da consciência cívica que deveria cercá-lo. Os beneficiários não se dão conta, ainda, do impacto dos seus resultados para o desenvolvimento da região. De outro lado, a argumentação contra o empreendimento vinda, sobretudo, do pastoreio da Igreja, inquieta quanto ao limite em que o álibi ecológico está servindo para paralisar a mudança social em área crítica do nosso atraso.


Os argumentos majoritários a favor da obra têm a avalanche do bom senso. Importaria, para além do sacio de uma sede secular, na expansão da energia e no pôr-se fim a errância nordestina. O reclamo já estava no fundo de um sentimento histórico trazido à tona por Pedro II. E não realiza o país que a dita alarmante sangria das águas do velho Chico não vai a mais de 26 metros cúbicos por segundo contra os 1.250 do fluxo do rio. A argumentação de agora, em favor do prurido ecológico, pode chegar ao desarrazoado.


Não se deve tirar “uma gota do rio”, tanto não se arborize, margem a margem, os 2 mil quilômetros do São Francisco, de modo a prevenir o esgarçamento do solo, que prossegue há milênios. Corrigiríamos a evaporação também multissecular do velho Chico. A ênfase desse raciocínio só demonstra toda perda de noção do tempo social da mudança; e do que seja, para o pastoreio da Igreja, dentro da doutrina social pós-Vaticano II, o desenvolvimento como o nome do bem comum dos nossos dias.


O mais importante da missão Lula, acompanhado por tantos candidatos potenciais à sua sucessão, foi a chibata na aceleração dos resultados. Não há por que manterem-se apenas dois turnos, sem um plantão adicional, e acompanhar o ritmo dos pelotões do Exército na abertura dos primeiros canais e barragens. Esses 75 dias do calendário final de 2009 traduzem o ultimato para que a transposição entre nos trilhos da agenda do PAC. O eixo Leste, abrangendo sobretudo Pernambuco e Paraíba, romperá neste semestre uma espera mitológica que vem do II Império. As datas intransgredíveis, de 2010 e 2016, fecham a obra-chave de irrigação nordestina, antes da Olimpíada, que vai, aliás, consumir quatro vezes mais que o resgate definitivo do velho Chico para o Nordeste brasileiro.


Jornal do Brasil, 28/10/2009

Jornal do Brasil,, 28/10/2009