Cheguei a Berlim ontem. Berlim, onde já morei quase um ano e meio, mas onde não volto faz alguns anos, continua com seu charme especial e cheia de boas lembranças para mim. Mas praticamente já não a conheço mais, de tanto que está mudando, a começar pela nova estação de trem, uma edificação moderníssima e monumental, tal como tudo mais que já foi construído e está sendo construído.
Berlim, agitada e festeira e agora tomada pelo espírito meio doidão da Copa, me parece não ter a imagem que merece. Quem visita a Europa devia passar pelo menos uns dias aqui, pois o que ela tem a oferecer e mostrar é quase infindável, dos esplêndidos museus a atrações como a KDW, superloja que tem de tudo o que se pode querer ou sonhar ter.
Mas ninguém, pelo menos que eu veja ou saiba, está pensando nisso. O que interessa é o jogo que aqui será hoje à noite e, aí, no Brasil, à tarde. Passei casualmente por um grupo de brasileiros e estavam todos querendo saber como se xinga em croata, para um caso de necessidade. Lamentei não poder contribuir, mas creio que, na hora do jogo, já disporemos de um estoque de palavrões croatas suficiente para ajudar a enervar o adversário, como é obrigação da torcida, embora politicamente incorreto.
Tivemos um breve encontro com a Croácia, pois, assim que entramos no trem que nos trouxe, descobrimos que ele estava cheio de jornalistas de lá. Logo em seguida, nova descoberta: o time da Croácia estava no mesmo trem. Assanhamento geral entre os repórteres, pelo menos para pegar uma foto deles, pedido imediatamente negado, sem muita cordialidade. Mas repórter é repórter e o pessoal insistiu. Não dava para levar um papo com o treinador? Pedido outra vez negado, a Croácia não quer nada com a gente. Quer é ganhar o jogo de daqui a pouco, sacrilégio inconcebível para a brasileirada e para os próprios alemães, que torcem para uma final com o Brasil.
Bem, posso ter de morder a língua daqui a pouco, mas não acho isso provável. Ao contrário do que muitos pensam, a seleção não está de salto alto e, como todos sabem, é de longe o melhor time que está por aqui. Além disso, como me disse outro torcedor brasileiro, é contra as leis na Natureza os croatas ganharem dos brasileiros. Até a controvertida “gordura” de Ronaldo não é gordura coisa nenhuma, para quem o vê em pessoa. É uma massa muscular poderosa, que está pronta para o bom combate. Cravei
O Globo (Rio de Janeiro) 13/06/2006
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