Um condomínio no município de São José, na Grande Florianópolis, soltou regulamento proibindo que seus moradores pratiquem relações sexuais depois das 22h. A medida foi tomada porque 18 condôminos reclamaram de uivos de prazer, ranger de molas e outros ruídos que os impediam de dormir. Pela medida, o morador que descumprir a ordem levará uma advertência. Se reincidente, receberá uma multa de R$ 237. O síndico cogita instalar sensores de ruídos nos corredores e gravar áudios dessas atividades para reproduzi-los na assembleia.
São medidas deliciosamente contraditórias. Significa que relações sexuais em voz alta, incluindo gemidos, serão bem-vindas até 21h? Se os sensores de áudio se destinam a captar os suspiros e sussurros das relações, isso não contraria o mérito da questão, que se refere aos frêmitos em voz alta? A apresentação dos áudios nas reuniões, que se supõem humilhantes para os praticantes do fux-fux, não terá um efeito pedagógico para os casais residentes que se limitam ao papai-mamãe? E é claro que a multa de R$ 237 em caso de reincidência será paga alegremente pelo dito reincidente —uma noitada num motel custa muito mais.
A reincidência também comporta especulações. Se o morador for advertido depois de uma primeira relação, será multado se der uma segunda dali a uma hora? E as mulheres que têm sonoros orgasmos múltiplos num único ato? Quantas multas isso custará?
Em 1968, morando no Solar da Fossa, tive como vizinho o grande sambista Zé Kéti, autor de, por acaso, "Malvadeza Durão". Todas as noites, justamente às 22h, ele e sua namorada começavam a função, com estrondos e alaridos que atravessavam a parede do meu apartamento. Não ouso descrever os espasmos de deleite da garota, nem dizer em quantos decibéis. Mas tinha-se a impressão de que estavam jogando cofres e cômodas um no outro. Era sensacional.
Ao saber dessas performances, outros moradores do Solar vinham ao meu quarto para escutar Zé Kéti em ação. Eram tantos que comecei a cobrar ingresso.