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Corpo e alma

 

Quase dez meses de novo governo e a impressão que nos dá é a de um corpo gigantesco (o Estado em si), mas sem alma. Não chega a ser culpa exclusiva de dona Dilma, que faz o que pode, repetindo nos muitos pronunciamentos de agora os mesmos temas de sua campanha eleitoral.

Prisioneira do esquema político que a elegeu e a sustenta, ela continua a ser uma promessa, uma possibilidade de boa governante, invocando todos os dias as conquistas dos últimos governos e garantindo que fará mais e melhor.

Só para dar um exemplo: está gastando muito mais em programas sociais do que em investimentos. Neste particular, segue, a seu modo, o exemplo do seu antecessor, que criou programas assistenciais que lhe deram popularidade. Praticamente, nada fez para criar a infraestrutura de um Estado moderno.

Todos sabemos que para os eventos previstos, Copa do Mundo e Olimpíada, o Brasil terá de se construir quase a partir do zero. Precisa urgentemente de portos, aeroportos, estradas, segurança, comunicações e, sobretudo, mão de obra. Basta dizer que nas plataformas da Petrobras, a maior empresa nacional, grande parte da mão de obra é importada, falta-nos o elementar, que é o ensino técnico e funcional.

Bem, há a corrupção generalizada que parece ter atingido mais um ministro. Com o monstruoso corpo administrativo sob seu comando, dona Dilma deveria ser a alma que botaria os burros para frente. A maior parte de seu tempo é consumida em manter e contentar a base de sustentação que impõe seus principais auxiliares, alguns dos quais ela nem deve saber o nome.

Pedir a demissão em massa do ministério para tentar novo começo, sem os compromissos herdados da campanha, seria um exagero, além de uma inutilidade. Tudo falta num corpo sem alma.

Folha de São Paulo, 18/10/2011