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Clocky, o implacável

 

Despertador se esconde de dorminhoco. Gauri Nanda, estudante do célebre Laboratório de Mídia do Instituto Tecnológico de Massachusetts, USA, inventou um despertador que obriga os dorminhocos a se levantarem para desligá-lo. Concebida para evitar o abuso da função "soneca" dos despertadores pelos preguiçosos, a engenhoca, batizada Clocky, cai no chão e anda. Para desligar o alarme, a pessoa precisa se levantar e procurar o despertador. Graças a um chip, a cada manhã ele vai parar num lugar diferente. (Folha Ciência, 9.abr.2005)

Aí está a solução do meu problema, pensou, tão logo ouviu falar no fantástico despertador inventado nos Estados Unidos. Ele era daqueles que sempre querem dormir mais cinco minutos; só que estes cinco minutos facilmente transformavam-se em uma hora. Resultado: estava sempre chegando atrasado ao emprego, o que lhe valera não poucas repreensões do chefe. Mas um despertador que continuasse tocando, e mais, que tivesse de ser procurado, certamente resolveria o seu problema.


Conseguir o Clocky naturalmente não seria fácil, mas, com a ajuda de amigos que estudavam no Instituto Tecnológico de Massachusetts obteve uma cópia do projeto, com a promessa de mantê-lo em segredo. Já confeccionar o despertador não foi difícil: ele era técnico em eletrônica e tinha uma habilidade incrível. Assim, logo tinha em sua mesa de cabeceira a engenhoca.


Que funcionava muito bem. Na verdade, funcionava melhor que o esperado. A cada manhã ele acordava sobressaltado com o alarme e tinha de caçar o Clocky pelo apartamento, que não era grande, mas tinha milhares de esconderijos. Coisa exasperante, mas, ele o reconhecia, necessária: espantava completamente seu sono.


Uma manhã, contudo, Clocky ultrapassou todos os limites. Tocava como um demônio, e ia de peça em peça, seu dono correndo atrás. Finalmente conseguiu encurralar o maldito no pequeno terraço do apartamento, situado no segundo andar. E aí aconteceu o imprevisto; num gesto aparentemente desesperado, Clocky saltou pela amurada.


Lá embaixo a rua estava praticamente deserta. Só havia ali uma moça, aparentemente esperando um táxi. Ele desceu correndo as escadas, ainda de pijama, e dirigiu-se até ela. Ia perguntar pelo Clocky, mas não o fez. Era tão linda, a jovem, que ele esqueceu completamente o despertador e cumprimentou-a amavelmente. Ela sorriu, simpática...


Estão vivendo juntos, no apartamento dela. Mas de vez em quando, enquanto estão fazendo o amor, ele ouve o alarme. É o Clocky, certamente, o implacável Clocky. Escondido, mas ainda por perto.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 18/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 18/04/2005