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Cidadania e exaustão política

 

Os últimos dados das Nações Unidas quanto ao exercício da cidadania pela prática do sufrágio são extremamente inquietantes, evidenciando o abandono dessa participação por parte da mocidade. Na mediana dos 25 anos, depara-se uma esmagadora maioria que declara votar em branco ou anular seu voto, diante de pleitos políticos obrigatórios.

E esse desmonte começa pelas esquerdas, e em todo o mundo, ao verificarmos, por exemplo, a dramática míngua de votos que teve o Partido Socialista francês, no último pleito. Tal se repete na Alemanha e na Bélgica, ou na Espanha.

Mas o inédito é, também, o esfacelamento do centro, cujas clássicas agremiações feneceram nas últimas eleições. Emergiria, em contraposição, um afluxo aos minipartidos, tal como se a aposta política destes dias se obstinasse na busca de alternativas realmente inéditas, ainda que expostas, a longo prazo, à recuperação ponderável de poder. Na aglutinação à direita, por outro lado, não se trata mais de escolha entre opções viáveis dentro de esquemas ideológicos, mas, já, na maioria dos casos, em abandono e ruptura, de vez, com o modelo democrático.

A mobilização de Bolsonaro é de um novo e possível status quo, em que se defina, uma vez por todas, a pauta da fiscalidade dos recursos nacionais, a garantia, de princípio, do privatismo, no comando da máquina estatal, afastado todo privilégio de uma gestão pública, em áreas vistas como prioritárias para o desenvolvimento.

Preservam-se, de toda forma, as finalidades sociais, vistas como excrescente ao que, com efeito, poderia ser destramado na liberdade de iniciativa privada, assegurada no rigor da sua estrita observação. A mantença dessa peculiaridade e a garantia de sua mantença em campos como o dos direitos individuais ou coletivos, como o da “tomada de consciência”, ou a crescente proteção do ecúmeno, são inseparáveis de qualquer afirmação da modernidade em nossos dias.

Até onde a passagem ao martelo da Petrobras, ou da Eletrobras, sufocará a garantia do dito “bem comum” na gestão dessas atividades cruciais da nossa mudança? Na sua presente formulação, tal proposta não se dá qualquer conta do que seja flagrante retrocesso, no caso de nosso estado de direito, a tentativa efetiva de coexistência entre um dito liberalismo e a nossa política de desenvolvimento.

O Globo, 12/04/2018