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A certeza humana

 

A razão humana, muitas vezes, toma tão forte certeza, que não carece de ouvir ninguém mais. E por que ouvir, se a razão determina e rege, com a segurança de que nada mais a abalará. 

Nem a fala ou revelação de Deus. E de não escutar e nem querer ver o que exsurge diante dos olhos, ou mesmo da alma, se tranca na carapaça de tartaruga.

Tudo em torno está errado, só a própria razão que não. Ao ter a orientação do poderoso eu, acha ter a orientação das estrelas.

E morre à míngua de excesso. E de vozes de possíveis inúteis enterradas no silêncio.

Quando a razão se excede, na visão de Chesterton, em Ortodoxia, conduz à loucura e ao desastre. O artista se safa pela imaginação. Ou a arte de domar a razão no fogo do invento.

Tem méritos a razão no alcance da ciência, por experiências ou na filosofia ou metafísica na procura do sentido do mundo.

Mas Deus não está na razão que é limitada em si mesma, com o demarcado horizonte, a revelação pela fé muda o polo.

Ou é a percepção da fé, ou alma inteligente de Deus em nós, com a palavra viva. Ou o encontro da dimensão celeste, que vai além da biológica.

A razão é um buraco, onde o homem esconde a cabeça.

Quanto mais escuridão, mais fundo e sem saída. Ou é a caverna, onde se adentrou o profeta Elias e ouviu a voz divina que o chamou para fora.

E o que nos chama para fora é a revelação do amor na palavra, o que nos chama para fora é a sede do Eterno, que foi, ali, posta no coração e nada preenche.

E se não há descobertas na mecanicidade, termino com a própria frase certeira de Gilberto K. Chesterton: “O poeta pretende apenas meter a cabeça no céu, ao passo que o lógico se esforça por meter o céu na cabeça. E é a cabeça que acaba por rebentar”.

Tribuna Online, 27/06/2021