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Cérebro de mãe é diferente

 

A Segunda Guerra teve na Europa resultados catastróficos, e não só em termos de destruição material. Milhões de pessoas pereceram, e muitas crianças ficaram sem os seus pais, vagueando pelas ruas ou pelas estradas. Na tentativa de avaliar os efeitos desta triste situação, a Organização Mundial da Saúde comissionou o psiquiatra e psicanalista inglês John Bowlby para fazer um estudo a respeito. O resultado foi um documento intitulado Cuidados Maternos e Saúde Mental que, de imediato, teve enorme repercussão. A criança, diz Bowlby, precisa de uma cálida, íntima e contínua relação com a mãe ou com uma figura materna. Sem isso, gera-se um quadro que ele chamou de deprivação (deprivation), e que é diferente de privação. Nesta última situação, não existe primariamente figura materna. Na deprivação, existe, mas é perdida, e o efeito, para a criança, é muito grave.


Os laços entre mãe e filho começam a se formar na gravidez - os movimentos do feto são muito importantes para isso, como o será, depois, a amamentação, que associa-se, inclusive, à ação de hormônios. A produção de ocitocina durante a lactação reduz a ansiedade. As endorfinas, que também são então produzidas, dão à mãe uma sensação de bem-estar. Ou seja, a natureza faz o possível para estimular o aleitamento, inclusive porque este, através do contato íntimo entre mãe e filho, reforça laços afetivos. Sempre se soube que o tato, a audição, o odor, a olfação ajudam as mães a serem mais mães. Recentemente, comprovou-se que o olhar é igualmente importante.


Pesquisadores japoneses usaram as imagens cerebrais produzidas por ressonância magnética para estudar as reações de mães de crianças pequenas. Filmaram crianças sorrindo para as mães. Depois, estas saíram, e as crianças foram filmadas chorando e pedindo às mães que retornassem.


As mulheres viram essas imagens enquanto seu cérebro estava sendo mapeado. E os resultados foram muito interessantes. Em primeiro lugar, os padrões cerebrais diferiam muito, conforme a mulher estava vendo sua própria criança ou uma outra. E, como era de esperar, a resposta era mais intensa quando a criança estava chorando. Ou seja: cérebro de mãe, assim como o coração de mãe, funciona diferente. O que tem garantido até hoje a sobrevivência da espécie. Os seres humanos podem cometer loucuras como guerras e assassinatos. Mas o instinto materno estará disponível para ajudar a corrigir esses erros.


Zero Hora (RS) 10/5/2008