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Caro data vermibus

 

Perdoem o latinório. Não vou embarcar na carne fraca que está criando problema e vergonha às nossas exportações. Até então, podíamos ter orgulho do produto, basta dizer que os nossos índios comeram o bispo Sardinha e não há notícia de que tenham passado mal.

Os latinos diziam que a carne foi feita para ser dada aos vermes: "caro data vermibus". Daí surgiu a palavra "cadáver", ou seja, a carne é para dar aos vermes. Boa coisa não se podia esperar dela.

Embora não soubesse latim, Hitler era vegetariano, não comia carne de jeito nenhum e os vermes não o comeram porque pediu para que fosse queimado. Além do mais, também mandou queimar as pessoas de que ele não gostava, inclusive milhões de judeus, ciganos e homossexuais.

Um avião chileno caiu nos Andes e os sobreviventes comeram seus colegas de voo. Dizem que Idi Amim Dada tinha um frigorífico para guardar a carne de seus inimigos e promovia banquetes com ela.

Não estou justificando o abuso (ou crime) dos nossos frigoríficos que aumentam a produção vendendo carne para nós e para povos amigos, embrulhada em papelão para esconder o péssimo produto que estão colocando no mercado.

Sinal dos tempos. A corrupção atual não se limita às propinas que nossos dirigentes estão cobrando de empresas, instituições e interessados particulares em busca de favores do Estado.

Pessoas de várias religiões, principalmente cristãos e católicos, renunciam ao diabo, ao mundo e à carne, independentemente de a carne ser forte ou fraca.

Não sou vegetariano nem índio que come bispos. Sei, como os latinos, que a minha carne poderá ser dada aos vermes, razão pela qual já deixei instruções para ser cremado legalmente. E minha saborosa carne não será consumida pelos amigos e pelos possíveis inimigos. 

Folha de São Paulo (RJ), 26/03/2017