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Caminhos da magia

 

No começo era a palavra. Tendo sido a base do entendimento, nela pousamos todo e qualquer avanço. No livro de Alberto Magno, que mergulha na magia da palavra e na feitiçaria dos arranjos verbais com que nos lançamos contra o desconhecido, o autor parte de uma identificação de si mesmo com o Santo que, também chamado Alberto Magno, dizem haver andado próximo a magia. O Alberto Magno de hoje fez pesquisas sobre o "Grimório" que Santo Alberto Magno teria escrito e onde estariam antigos exemplares desse tratado que, às vezes, aparece com o nome de "Grimorium Verum", isto é, "O verdadeiro Grimório", para o distinguir dos falsos.


Diante do livro de Alberto Magno - o de agora - pode-se perguntar: "Quem lutava pela verdade - os exércitos de Césares e Reis que destruíram os centros de magia? - ou estes? Nas pesquisas que empreendeu há textos de alta beleza vocabular, como a descrição de cidades mágicas existentes no tempo dos druídas quando, na Gália Central, toda uma população foi exterminada, inclusive os sacerdotes druídas e os neófitos.


O escritor francês J. M. de Ragon descreve assim a região destruída: "Bibracta, mãe das ciências, alma das primeiras nações (da Europa), cidade igualmente famosa por seu colégio sagrado de druídas, sua cultura e suas escolas, onde 40 mil alunos estudavam filosofia, gramática, literatura, jurisprudência, medicina, arquitetura, astrologia, ciências ocultas, e outras.


Rival de Tebas, Mênfis, Atenas e Roma, tinha um anfiteatro rodeado por colossais estátuas, com capacidade para 100 mil espectadores; erguera um capitólio, templos consagrados a Jano, Plutão, Proserpina, Júpiter, Apolo, Minerva, Cibele, Vênus e Anúbis. Entre esses suntuosos edifícios ficava a Naumaquia, com sua vasta bacia, admirável e gigantesca obra, em que flutuavam galeras e barcos destinados a jogos navais. Havia, finalmente um "Campo de Marte", um aqueduto, fontes, banhos públicos e muralhas, cuja construção remontava aos tempos heróicos".


A descrição faz pensar num paraíso intelectual quase inacreditável, mas inteiramente desejável, o que nos faz odiar, apesar da distância no tempo em que estamos em relação ao dessa destruição, os que a comandaram, quando, segundo o mesmo relato aqui transcrito, no reinado de Tibério, Bibracta foi entregue ao saque, tendo Sacovir - o chefe gaulês que se revoltara contra o despotismo de Roma, sido vencido por Sílio, no ano 21 de nossa era - morrendo, com seus soldados, numa pira funerária diante da cidade de Bibracta, que estava entregue ao saque, enquanto seus tesouros de literatura e de ciências ocultas eram destruidos pelo fogo.


Santo Alberto Magno nasceu em 1193, num lugar chamado Lauigen, nas margens do Danúbio. Só viria a ser canonizado Santo em pleno século XX: em 1931 pelo Papa Pio XI (em 1941 Pio XII declararia Santo Alberto Magno protetor das ciências e dos cientistas cristãos). Sacerdote dominicano, tinha por domicílio predileto a cidade alemã de Colônia, onde escreveu parte de sua obra. Textos que tratam de doenças e de curá-las integram todos os livros de magia e não podiam faltar nos de Alberto Magno.


Os próprios atributos dados a Santos e Nossas Senhoras se fixam às vezes em males do corpo e são motivo de análises em escritos tocados pela magia. Na Espanha há uma Virgem dos Remédios, na cidade de Valença cultua-se uma Nossa Senhora das Febres, São Cirino é para chagas, úlceras e apostemas. Além dos Santos, existe a magia da aproximação dos semelhantes ou da aceitação de que um animal possa ter qualidades ou defeitos de outro. Assim, diz Avicena que, se uma coisa permanece tempo de mais junto ao sal, vira sal. Se alguém permanece com um homem audaz, audaz fica. Se com um medroso, medroso será.


Lado importante do livro de nosso Alberto Magno é o da apresentação e estudo minucioso da palavra e de sua influência nas pessoas. Há palavras mágicas, em geral as que se baseiam em determinadas vogais. Assim, vocábulos que tenham o "a" cinco vezes são tidos como sagrados e/ou mágicos. Nem por outro motivo é a palavra "abracadabra" usada como abridora de caminhos. A língua brasileira tupi, de fundo vocálico, dispõe de palavras assim (como "Araraquara") ou mesmo como a da raiz de nossa Copacabana (que vem do boliviano "Capacabana", com cinco vezes o "a").


Várias páginas do volume enumeram palavras às vezes utilizadas em atos de magia ou consideradas aptas a produzir um bom efeito se usadas. Assim, "Elponen" (grego: força da esperança); "Agab" (hebreu: amado); "Ikonok" (grego: fantasma); "Kemal" (hebreu: desejo de Deus); "Erekia" (grego: quem separa).


Cada uma dessas palavras vem a ser também o nome de um espírito que provoca o sentimento nela expresso. Mas como se manteve até nós o Grimório de Alberto Magno? O pesquisador e autor de agora informa: "O verdadeiro Grimório de Alberto Magno, que apresento aqui, remonta em parte ao Século XIII. Chegaram até nós cerca de sessenta cópias manuscritas, entre os Séculos XIV e XVI. Esta raríssima obra é completa de citações, extraídas de diversas obras gregas, árabes, judias, que foram, através do tempo, apresentadas abusivamente cmo emanadas do sábio dominicano."


"Santos ou pecadores?: O verdadeiro Grimório de Alberto Magno", do autor brasileiro Alberto Magno, é editado sob a coordenação de Fernanda Cubiano. Diagramação de Aline Figueiredo. Revisão editorial: Bernardo Horta. Foto da capa: Henry Mariano III. Capa: Felipe Paccini.


 


Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em 22/07/2003

Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, 22/07/2003