A caminho do Fundão: o Campus da UFRJ está encharcado e particularmente verde após 5 dias de chuva. O rádio do carro do colega que me dá carona transmite um debate áspero sobre o STF e suas recentes decisões. Causa sempre estranhamento ao falante o fato de a língua admitir a existência de palavras que não devem ser faladas ou escritas. Todos se lembram das admoestações da professora ao aluno na escola quando do soletramento gostoso de um palavrão endereçado ao colega de mesa. Como ela sabe que isso quer dizer isso? Será que já experimentou? é o pensamento galhofeiro da criança curiosa. A blasfêmia, noção tão presente na tradição judaico-cristã, já trabalhava com o par sagrado-maldito.
O termo tabu só chegou ao ocidente, importado da Polinésia, em 1785. A associação do palavrão às atividades do corpo e ao sagrado vem sempre realçada por psicanalistas e antropólogos. Ao divino e ao animal. A maneira de esses vocábulos se manterem vivos é através do seu esvaziamento de sentido. Tal dessemantização se dá com o uso constante do termo, por exemplo. Mas o significado está li dentro, bonitinho e faceiro. A gente ouve todos os dias esse emprego vocabular nos trailers da UFRJ. Fere-se o corpo da figura materna, esse ser que suscita movimentos e desejos ambivalentes, como soem analisar os psicanalistas.
Já ao pai vem reservado um sentimento mais espiritual e menos corporal, mais divino e menos animal ; jura-se por ele, ou a ele se pede clemência . Nesta semana houve também, junto com o STF, manifestações pelo fim da violência contra a mulher. A língua continua super machista, os xingamentos em grande maioria remetem ao papel passivo da fêmea na semântica do amor, como se o papel das mulheres fosse algo vil , um simples depósito para o macho ensandecido. São esses tabus que recebem a atenção privilegiada dos palavrões, claro. Mas esses interditos se modificam, lentamente, é verdade, mas se modificam. A roda do fado não para de girar. Graças a Deus!!!!!
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