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A busca da felicidade

 

Aristóteles dizia que o homem é um animal político, e que ele não ^» se associa para buscar unicamente a existência material, mas sim para buscar a felicidade, o que Jefferson repetiria na declaração de independência americana. Os gregos inventaram a ideia e a palavra política e a transformaram numa maneira de organizar o poder em torno da vontade de todos, a força da comunidade constituída em cidade. Fizeram a democracia. 

Quando a democracia ressuscitou, com as revoluções inglesa, americana e francesa, a república precisava ser refundada. A sociedade abriu espaço para todos. A política deixou de ser um privilégio de elites para aceitar todas as camadas da população. Fazer política é participar da gestão do Estado, e o Estado não era mais a Polis aristotélica nas mãos do sábio, mas uma delegação coletiva, o Um da servidão voluntária que temos que aceitar para construir e escapar ao medo e à morte. 

A sociedade democrática é formada por grupos de pressão que querem influir no poder. Para isso, foram criados os partidos políticos - também grupos de pressão, mas preparados e destinados a 
tomar e exercer o poder. Estes grupos especiais têm diversas origens, como mostrou Duverger, mas algumas regras comuns para legitimá-los. A primeira é a da coerência em torno de uma maneira de ver o exercício do poder, do que se substancia num programa. Depois, é a prática da democracia interna, essencial para a formação de quadros. 

O maior problema deixado pelo regime militar foi que, com a extinção dos partidos que tinham lideranças fortes vindas e representativas da sociedade brasileira no seu sentido mais amplo. Com a dificuldade de exprimir-se no caminho natural da política partidária, o campo da representação se estreitou. Com a Nova República, abri o espaço reconhecendo todos os partidos, mas eles tiveram que recomeçar do princípio. Por outro lado, havia surgido um novo interesse no exercício do poder, que é o do projeto pessoal, com um desvio fácil do campo da ética.

O caminho natural, que deve atrair os jovens, é o da vocação do bem coletivo, do desejo de estender a mão aos outros, de pensar num mundo melhor, de sonhar com utopias. Claro que, como dizia Bismark, a política é a arte do possível: mas o destino do bom político é aproximar o possível de seus sonhos.

Lenine, que era um teórico da guerra, aplicou as leis da guerra à política, na busca da criação do Estado socialista. Clausewitz, em Da Guerra, disse que esta era "a continuação da política por outros meios", "um ato de força para forçar o adversário a cumprir a nossa vontade". Com essa concepção, o terreno para a política, arte de governar os povos, promover a paz social, estabelecer a coesão nacional passa a ser só um ato de batalha, onde o objetivo é aniquilar.

Os jovens, e todos nós, temos que recusar este caminho. A política é, em síntese, a arte de harmonizar conflitos dentro da sociedade democrática. É o terreno da conciliação, de usar o possível para a busca da felicidade.

O Estado do Maranhão, 16/08/2015