Há uma semana, escrevi de novo aqui sobre Bolsonaro. Leitores estranharam e me cobraram por ter dito que não falaria mais dele. Mas eu nunca disse bem isso. O que prometi foi que, quando Bolsonaro fosse preso, deixaria de poluir este espaço com seu nome. E só naquela quinta-feira, com o jornal já nas ruas, foi-lhe dada a ordem de cumprimento da pena e Bolsonaro começou a contar com quantos dias se fazem 27 anos e três meses de cadeia.
Outros leitores me atribuíram uma fixação em Bolsonaro. De fato, devo ter escrito umas cem vezes ou mais sobre ele nos últimos sete anos. Mas tinha razão para isso. Bolsonaro, político rasteiro quando deputado —pertencia ao baixo clero do baixo clero—, beneficiou-se de uma trágica convergência política para ganhar a Presidência e se tornar o homem mais perigoso da nossa história republicana. Se chegasse ao segundo mandato, já tinha tudo preparado para eternizar-se no poder, do qual "só sairia morto", como não se cansou de dizer. Em quatro anos no Planalto, dedicou cada hora do dia a esse plano.
Outros leitores comentaram que "está na hora de esquecer Bolsonaro" e que "continuar a falar dele é dar-lhe uma importância que ele não merece". Pois penso exatamente o contrário. Não podemos esquecê-lo nunca. Bolsonaro precisa ser lembrado para sempre a fim de que não surjam novos bolsonaros —assim como as Forças Armadas não podem se esquecer de Augusto Heleno, Braga Netto, Almir Garnier e outros que rebaixaram suas fardas a serviço de alguém que nunca honrara a dele.
A história é a espinha dorsal de um país, daí os regimes autoritários, de direita ou de esquerda, a reescreverem quando se instalam no poder. Todos aprenderam com George Orwell: quem controla o presente controla o passado; quem controla o passado controla o futuro.
Bolsonaro já devia começar a fazer parte do currículo do ensino básico. Os filhos de muitos mortos pela Covid, por exemplo, têm o direito de saber que seus pais morreram porque ele lhes negou a vacina.