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A agonia da Varig

 

Assis Chateaubriand, quando advertido por João Calmon, superintendente dos Diários Associados, que a situação do O Jornal, que então circulava no Rio, era crítica, respondeu: “Não se desespere, Calmon, jornal não morre de enfarte e a doença que o mata leva, no mínimo, dez anos.”


 


Com as companhias de aviação o tempo é bem maior. A fascinação da nossa geração foi a aventura de voar, romper distâncias entre nuvens e ventos. Era como, hoje, as novas técnicas de comunicação, a TV digital, os satélites e os iPods.


 


Lembro-me bem de um texto de Da Vinci  no qual ele profetizava que era nas grandes altitudes que os ventos tinham alta velocidade. Com o avanço da ciência constatou-se que ele tinha razão. É lá que habitam as grandes ventanias e não ao rés-do-chão. Ele se preocupou com o vôo e tentou inventar máquinas de voar. Vi encantado, no Vale do Loire, na casa que Francisco I lhe deu, belos modelos dessa sua obsessão.


 


Recordo sem apagar com os anos o espanto com que vi pela primeira vez um avião. Tinha oito anos e foi na cidade de Balsas. Toda a cidade foi para o campo de pouso olhando, como disse Aristides Lobo da República, bestificado, o pássaro descido do céu e com gente dentro.


Todos os meninos do meu tempo queriam ser aviadores. Era o fascínio de voar e ao descer as moças suspirarem com nossa coragem. Depois, as minhas primeiras viagens aéreas. Já então a Varig era o máximo. Marca de conforto e segurança. Por acaso estava em Paris, com uma passagem da Panair, quando esta perdeu suas linhas do exterior e a Varig passou a substituí-la. Morria a Panair, como morreu a Panam, americana, gigantes e ícones dos tempos heróicos da aviação comercial.


 


Rubem Berta, o fundador da Varig, com as coragens e as audácias de pioneiro, convidou-me para o primeiro vôo da Varig para Tóquio. Ele dizia-me que, com esta linha, a companhia dava a volta ao mundo. Morreu antes que isso acontecesse.


 


Vejo agora a agonia da Varig. Lembro-me do seu charme e do seu esplendor naqueles anos. A beleza dos Constellations, dos Douglas DC-4, 5, 6, 7C. A novidade do Caravelle e depois dos jatos modernos. Como as pessoas, os objetos, os sonhos e as empresas morrem.


 


É com nostalgia que assisto aos estertores das asas abertas por Berta. Pagam o preço do pioneirismo e do tempo. Quanto tempo levam as empresas aéreas para morrer? Sem dúvida mais do que os jornais. Que bom se ela se salvasse.


 


Mas, Varig, Varig, Varig!


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 16/06/2006

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), 16/06/2006