Meu irmão em Flamengo, o blogueiro Arthur Muhlenberg, promete botar em prática uma sugestão que lhe foi passada sem querer por Abel Ferreira, treinador do Palmeiras: tatuar numa parte nobre do corpo um asterisco, em orgulhosa homenagem ao título brasileiro de 1987, ganho em campo pelo Flamengo e atribuído pelo STF ao campeão da 2ª divisão. A ideia ocorreu a Muhlenberg ao ouvir as entrevistas do dito Abel Ferreira, que, incapaz de engolir a perda de dois campeonatos para o Flamengo em uma semana, classificou seus títulos pelo Palmeiras como "sem asterisco" —referência ao do Flamengo em 1987, que costuma levar esse sinal como um título "contestado".
A verdade sobre 1987 já foi estabelecida em artigos, pareceres e livros por gente abalizada, e até por mim, no domingo último (7). Donde, no espaço de hoje, vou me dedicar à personalidade transtornada de Abel Ferreira, treinador do clube brasileiro que o arrancou de uma carreira obscura em Portugal e pôs em suas mãos estrutura e recursos que ele soube aproveitar. E é isto o que nos intriga: como um gajo tão bem-sucedido num país estrangeiro insiste em ofender e diminuir quem o acolhe e valoriza?
Para Abel Ferreira, nas coletivas pós-jogo, os jornalistas, dirigentes e árbitros brasileiros são uma malta de estúpidos, mentirosos e ladrões. Abel Ferreira já comparou nossos clubes a "times de índios", chutou microfones e fez um gesto obsceno para um juiz. Embora repugnante, sua animalesca arrogância, principalmente contra as repórteres, sai sempre impune —nunca um jornalista lhe virou as costas ou o mandou à merda. Seu caso, urgente, é de análise de grupo —ele e um grupo de psiquiatras.
Se um treinador brasileiro em Lisboa cometesse contra Portugal um décimo de suas cavalares agressões ao Brasil, já teria sido mandado de volta na primeira caravela. Abel Ferreira sabe disso e deve rir da nossa gentil subserviência.
Corrigindo a gentileza: Abel, asterisco é a sua avozinha em Penafiel, simpático vilarejo banhado pelo Douro.