
Escuridão pessoal
[2]"Glauber Rocha jamais venceu a escuridão pessoal" - escreveu Heitor Cony, em Eu,aos pedaços. Não seria essa escuridão para alguns, a marca de genialidade, como a luz é para os outros, bem poucos? Lembrei-me do amigo Iberê Camargo. Várias vezes quando viajava ao Rio, ia visitá-lo no ateliê, assistindo ao espetáculo quase pirotécnico de sua criação, como se a tinta fosse sangue e o sangue, pintura. Mas a escuridão no seu processo inventivo tinha janelas de fogo ou janelas de céu roído de azul, junto à espessa escuridade.