
Palavras, palavras, palavras
[2]Houve época em que me espantava com a história da humanidade, cheia de sangue, guerras por causa de um deus ou de uma mulher, como a de Troia.
Houve época em que me espantava com a história da humanidade, cheia de sangue, guerras por causa de um deus ou de uma mulher, como a de Troia.
O senador Cristovam Buarque, que marca sua atuação na política brasileira pela defesa da melhoria da educação, tendo ficado conhecido como o candidato "de uma nota só" - coisa que muito o orgulha, aliás - quando se apresentou na disputa pela Presidência da República em 2006, tem uma nova utopia: a ampliação da rede de escolas públicas federais, hoje com cerca de 300 unidades (Pedro II, escolas técnicas, colégios militares, institutos de aplicação).
O encontro do ex-presidente Lula com representantes de alguns partidos da base aliada, tendo o vice-presidente Michel Temer como principal interlocutor do PMDB, gerou alguma ciumeira entre partidos que não foram convidados - PP, PR e PTB, a direita da coalizão governamental. E também deixou no ar uma proposta de misturar o voto em lista fechada defendido pelo PT e o "distritão" que o PMDB quer, tudo para viabilizar o financiamento público de campanha, que parece ser o grande objetivo de Lula na sua pregação pela reforma política.
Televisão nunca foi minha praia, mas os azares ou ironias do destino me fizeram, um dia, superintendente da teledramaturgia da antiga Rede Manchete. Numa seara difícil, sem condições de concorrer com a gigante do setor, optamos inicialmente por novelas de época, começando com "Marquesa de Santos" e "Dona Beija", ambas estreladas por Maitê Proença. Deu para o gasto, em algumas noites chegávamos à liderança no horário.
Celebramos o cinquentenário da renúncia de Jânio e, ao mesmo tempo, da crise que levaria à desestabilização do regime, facilitando o golpe de 64. José Augusto Ribeiro vem de nos dar o trabalho monumental, em dois volumes, tecendo o romance do gesto desastrado, e, nele, da ação de José Aparecido contra a obsessão golpista de Carlos Lacerda. Recorda-nos a interrupção das iniciativas do presidente, no apoio à reforma agrária do projeto José Joffily, nas diretrizes sociais e descentralizadas, trazidas ao Banco do Brasil, ou no começo de uma comissão de planejamento nacional. Mas é na linha da afirmação da política externa, resultante da cooperação de Afonso Arinos, desde a viagem de Jânio a Cuba, que se atenta ao quanto prometia a volta de Jango da China, na abertura desta nova atitude' internacional. Dever-se-ia muito ao vice-presidente na capacidade de ouvir e de induzir consensos, ao transformar uma missão comercial do empresariado brasileiro, numa nítida visita de Estado, na direta interlocução com Mao Tse-Tung.
Quem conhece de perto a instituição pode aquilatar com muita propriedade o empenho do Sesc na defesa dos nossos melhores valores culturais. A sua biblioteca volante é muito popular em cidades do interior do País, variando de bairro em bairro a cada 15 dias, sempre com muito sucesso de público. Além disso, desde 1946, quando foi fundado, o Sesc procura incentivar o gosto pela leitura junto ao seu público, predominantemente de comerciários. Tem sacolas ambulantes, salas de leitura e a maior rede privada de bibliotecas, hoje com 303 unidades espalhadas em nosso imenso território. Do acervo, sempre renovado, constam obras de literatura brasileira para adultos, jovens e crianças; literatura traduzida para o português; livros didáticos; biografias; jornais e revistas. Segundo o educador Danilo Santos de Miranda, diretor geral do Sesc /SP, "esse é um dos mais importantes segmentos das atividades do Serviço Social do Comércio, procurando suprir nossas carências culturais." Com esse propósito foi inaugurada mais uma unidade do Sesc, desta feita no bairro do Bom Retiro/SP, numa região marcada pelos desvios da cracolândia. Numa área renovada de 14 mil metros quadrados, os profissionais do Sesc colocaram à disposição dos jovens inclusive uma sala digital, equipada com 14 computadores, onde está funcionando o projeto Internet Livre, para alfabetizar digitalmen-te a população que vive ou trabalha no entorno. Para Abram Szajman, presidente da Fecomércio, "nossa nova biblioteca conta com mais de 5 mil títulos e crescerá sempre, pois temos a intenção de mudar o perfil dos jovens daquela região, onde o comércio tem uma força enorme." Disse-nos que pretende formar leitores críticos, divulgar a produção literária local e incentivar a existência de novos escritores.
O crescimento da pobreza nos Estados Unidos em 2010, em consequência da crise econômica, recentemente revelado por pesquisas oficiais, fez voltar um debate que chegou a ter até mesmo um pitoresco lado internacional. Ao mesmo tempo em que, no Brasil, o ano de 2010 marcou a ascensão da classe C, a classe dominante tanto em número de pessoas quanto em poder de compra, abrigando mais de cem milhões de brasileiros, nos Estados Unidos houve o inverso, fazendo com que alguns ufanistas considerassem que o Brasil, finalmente, sobrepujara os Estados Unidos.
Estou, ultimamente, certo de que um fenômeno está surgindo no mundo atual: a compressão do tempo. Ele está cada vez mais chato e achatado.
Parece que dessa vez sai a tal Comissão da Verdade. Sua constituição deverá provocar alguma polêmica, mas sua necessidade é evidente. Afinal, durante muitos anos, sobretudo entre 1964 e 1985, passamos por um túnel sinistro no qual muitos foram massacrados ou perseguidos. Deve haver em algum lugar dos ministérios militares e das polícias estaduais e municipais um vasto acervo de crimes do Estado contra os cidadãos.
A tese de que é preciso gastar cada vez mais no social, ainda que isso tenha um custo alto, como a criação de novo imposto para substituir a CPMF, aumentando ainda mais a carga tributária, porque provocaria o desenvolvimento, está em vigor muito antes deste governo.
Estou em Berlim, chegado de Viena, onde passei cinco dias praticamente sem falar em política, porque o evento a que compareci foi o 9.º Congresso Alemão de Lusitanistas, realizado pelo Instituto de Filologia Românica da Universidade de Viena e pela Associação Alemã de Lusitanistas. Minha participação principal foi uma sessão em que fizemos leituras bilíngues de textos meus, seguidas por uma animada conversa com uma plateia muito simpática.
Da mais recente tentativa de negociação para aproximar os dois sistemas ortográficos vigentes no Brasil e em Portugal resultaram duas propostas, uma em 1986, no Rio, e outra em 1990, em Lisboa. A primeira caracterizava-se por alterações mais avançadas, em que o negociador brasileiro, o acadêmico Antônio Houaiss, trazia à mesa algumas antigas posições simplificadoras do seu mestre Antenor Nascentes. O texto daí resultante mereceu críticas severas, sobretudo de Portugal, porque, fundamentalmente, se desviara do propósito motivador da reunião que, como sabemos, seria diminuir as diferenças. Na segunda reunião, em Lisboa, com o linguista João Malaca Casteleiro como o principal negociador da equipe portuguesa, prevaleceu, como vimos aqui, franca aproximação com as Bases do Acordo de 1945. Compreende a inteligência e a sensibilidade diplomática de Antônio Houaiss que assim o texto daí resultante poderia alcançar maior receptividade entre os países signatários, Portugal à frente, de modo que, enfim, a língua portuguesa lograsse atingir, neste aspecto, à maturidade cultural e política como veículo de difusão internacional. Nesta aproximação com o texto de 1946, nós brasileiros passaríamos a adotar pequenas alterações de acentuação tônica (não mais usaríamos acento agudo nos paroxítonos com os ditongos abertos éi e ói: ideia, jiboia; bem como não marcaríamos o "i" e "u" tônicos depois de ditongo decrescente: maoista, cauila, feiura, baiuca); passaríamos definitivamente a escrever com 'i' e não com 'e', o sufixo -iano e -iense: acriano (e não acreano), de Acre, camoniano (de Camões); usaríamos -io e -ia (e não -eo e -ea) átonos em formas variantes de substantivos terminados em vogal, como réstia(e não restea), hástia (e não hástea); aliviaríamos o circunflexo de "voo", "enjoo", e "veem" "leem"; reduziríamos os acentos diferenciais obrigatórios a "pôde" e "pôr"; aboliríamos o trema sobre o'u' proferido dos grupos de gue, gui, que, qui:tranquilo, quinquênio. Todos estes novos hábitos gráficos já eram correntes no sistema português-africano de 1945.
O foco da Academia Brasileira de Letras em seus 114 anos de existência sempre foi o de preferentemente preservar e valorizar a memória nacional, a língua como instrumento do conhecimento e da convivência, as letras como reveladoras e formadoras da identidade do país, sem deixar de fora nada do que é humano, como a ciência que reside no espírito - a explicar o ob-servado - e a poesia que habita a alma, a senti-la e a compreendê-la. Logo, não poderemos ter uma cultura amnésica e um civismo estaladiço, feito apenas de muito verniz.
O discurso do acadêmico, educador e crítico literário Eduardo Portella, ex-ministro da Educação (que cunhou a frase "Não sou ministro, estou ministro"), na cerimônia de minha posse na Academia Brasileira de Letras, sexta-feira, foi uma importante peça de análise política sobre "os tempos nublados da derradeira modernidade", que ele prefere chamar de "baixa modernidade", que estamos vivendo.
Em janeiro de 1968, fiz escala de alguns dias em Praga, seguindo depois para Moscou e Murmansk, até o meu destino final, que era Havana.
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