
Dá para ensinar a escrever?
[2]"O que faz de alguém escritor ou escritora? É a vocação? É o meio familiar? É a circunstância histórica?"
"O que faz de alguém escritor ou escritora? É a vocação? É o meio familiar? É a circunstância histórica?"
Achava-me em Londres, em 1994, quando Agostinho da Silva morreu. Assim que soube da notícia, escrevi sobre ele e sua obra para um jornal do Rio. Agora, que estamos comemorando o centenário de seu nascimento, vale a pena que se chame de novo a atenção para a importância de sua obra. De uma estirpe foi ele, a estirpe romano-visigótico-galego-luso-brasileira em que necessariamente nos inserimos. De estirpe é todo o gênio que, pés no chão, tem a visão do caminho.
A idéia de existir um corredor agrícola, no Rio de Janeiro, vem de longe. Começou em 1979, com 14 escolas da rede estadual de ensino, inclusive duas que foram especialmente criadas com esse espírito: uma em Teresópolis (Centro Interescolar Agrícola José Francisco Lippi) e outra em Valença (CIA Monsenhor Tomás Tejerina de Prado). A primeira foi inaugurada no final do nosso mandato (1983) e a segunda num dia inesquecível: choveu uma barbaridade. O par de sapatos do Secretário de Educação foi deixado na escola, como lembrança.Há pouco, o Corredor Agrícola foi recriado, pela Secretaria de Estado de Educação, desta feita com nove escolas. Quais as vantagens? Oferecer oportunidades aos jovens do interior e até mesmo a chance de vender os seus produtos nas feiras locais, carentes de hortigranjeiros de primeira qualidade, sem a absorção dos lamentáveis agrotóxicos em doses excessivas. A importância desse movimento é muito grande, pois até hoje o Rio de Janeiro, com excelentes condições de clima e solo, depende da importação de produtos agrícolas de estados vizinhos. Só produzimos cerca de 20% do que consumimos.Isso encarece os produtos essenciais à cesta básica dos cidadãos. Eles chegam por intermédio de caminhões, em percursos penosos pelo mau estado das nossas estradas, e naturalmente mais caros. Se formos examinar a relação custo/benefício, a conclusão será óbvia: temos que produzir aqui mesmo, aproveitando áreas disponíveis, no interior, pois nem todas foram tragadas pela voragem imobiliária ou pela visível industrialização que hoje marca o Estado fluminense.O objetivo dessas escolas é, após analisar e identificar as necessidades e demandas das regiões onde estão inseridas, aplicar e desenvolver iniciativas, por intermédio de alunos e professores, que são efetivadas nas próprias unidades ou até mesmo em pequenas propriedades rurais próximas. Na linha do combate à exclusão, na aprendizagem de técnicas adequadas e no estudo do mercado de comercialização, esse trabalho contribui para a melhoria da qualidade de vida dos que estão envolvidos no projeto.Por outro lado, ele se insere nos projetos mais amplos do Governo do Estado, que criou programas como o Frutificar, o Florescer, o Prosperar, o Multiplicar, e o de Cultivo Orgânico, com os quais existe uma interação necessária. Todos ganham com esse entrosamento.O CIA José Francisco Lippi está com 1023 alunos, aos quais se oferece o curso de técnico em agropecuária. Trabalham com a produção de mudas de plantas olerícolas e ornamentais, fruticultura, paisagismo, hidroponia e preparação e cultivo de bromélias. Possui também uma estação climatológica que transmite dados para todo o País. O CIA Monsenhor Tomás Tejerina de Prado tem 178 alunos, aos quais são oferecidas oportunidades em zootecnia, agricultura, processamento de produtos agropecuários, administração de propriedades rurais e desenho e topografia. Em Cambuci trabalha-se a piscicultura, em Itaperuna (CIAPI) a vez é dos cursos de olericultura, hortofruticultura, jardinagem, caprinocultura, avicultura, apicultura, etc. Em Friburgo é a vez da produção de mudas e hortaliças através de estufa e reflorestamento de eucaliptos. Os exemplos são numerosos de uma atividade que merece toda a prioridade do Estado.
Os últimos dados das pesquisas eleitorais já vão, após o começo das campanhas na TV, praticamente, aos 50% de voto em Lula. Continua no Planalto o petista sem o PT e sem herdeiros, e reforçado pela maciça votação do país de fora que não se engana e tem a consciência da opção pelo outro Brasil. É este o verdadeiro trunfo da mudança hoje a depender cada vez mais desta aposta visceral do Presidente, mas que ultrapassa toda idéia de carisma ou de laço personalíssimo com o governante e aponta a percepção primária do por onde sair-se de um país estruturalmente injusto.
João Francisco Lisboa escreveu um clássico sobre a evolução do processo eleitoral: Eleições na Antiguidade.
A TV Globo exibiu, sob iminência de morte de seu funcionário seqüestrado, o comunicado do PCC, concernente à situação dos presidiários em São Paulo. Denuncia sua exposição o tratamento que viola a garantia dos direitos humanos assegurada pela Carta Magna. Indo ao ar dentro desta ameaça-limite, o documento se caracteriza como peça jurídica, mantida no estrito rigor de um requisitório dos tribunais, e cobra o respeito, nas cadeias de São Paulo, à integridade física e psicológica do detento.
A distância que vai da antiga pólis dos gregos, com alguns poucos milhares de habitantes, ao Estado contemporâneo, em especial nas sociedades de massa de nossos dias, é a mesma que separa a maioria dos cidadãos da democracia. Esta é, seguramente, a razão pela qual, quase em toda parte, as instituições políticas e os poderes do Estado não são os mais bem avaliados pela opinião pública. A percepção do cidadão é a de que conceitos como política, poder e autoridade não são mais que entraves aos seus direitos.
Mário Mendonça, o maior pintor sacro contemporâneo do Brasil, tem feições e o porte que lembram quem foi, na ficção de Miguel de Cervantes, o fidalgo D. Quixote de la Mancha, cavaleiro da triste figura e proprietário único de diversos sonhos impossíveis.Daí não constituir surpresa a atração do nosso artista, justamente homenageado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, com a medalha Pedro Ernesto, pelo que representou a sua fidelidade a D. Quixote, que pintou 38 vezes, de formas diferentes, para compor uma de suas mais bem sucedidas exposições. Tivemos o privilégio de ser uma espécie de curadores da homenagem prestada, na Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro, aos 400 anos da obra-prima de Cervantes, retratando a bela e generosa alma do pintor que, depois do êxito, doou parte dos desenhos para instituições culturais, com o natural compromisso de sua conservação, para garantir o acesso à merecida posteridade.Na ocasião, comoveu-nos a apreciação de Ana Lígia Medeiros: "O traço elegante e comovente de Mário Mendonça leva o observador a caminhar lado a lado com os cenários e sentimentos que retratam a viagem entre o sonho e a realidade, empreendida pelo sempre memorável cavaleiro andante." Os desenhos são de tamanhos variados efeitos a nanquim, extrato de nogueira, guache e lápis de cor sobre papel I. Fabian.O trabalho deste carioca ilustre - do qual nos orgulhamos - foram levados a Madri, ao lado de bem sucedidas pinturas à óleo por outra de suas paixões, a cidade mineira de Tiradentes, onde, aliás, dispõe de um estúdio bastante confortável. O comentário é de um dos mais famosos jornais da Espanha: "D. Quixote, além da óbvia homenagem à Espanha, assume o lugar do personagem favorito de Mendonça, o Cristo. É o homem do mundo, o herói alucinado, portador de inquestionável grandeza, capaz de reformar um conceito de vida." Houve um incrível sucesso de vendas e, como sempre faz, o pintor carioca destinou os resultados financeiros à APAE de Tiradentes, para reforço às suas atividades assistenciais.Mário tem notoriamente um espírito ecumênico, demonstra os seus sentimentos nas reuniões mensais do Conselho Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde o convívio prazeroso representa também um claro aprendizado. Foi dele que partiu a insistência para que fosse criado o Museu de Arte Sacra do Rio de Janeiro, a fim de evitar que peças históricas fossem roubadas das igrejas cariocas. Hoje, ainda modesto, o Museu é uma realidade, na paisagem do centro do Rio de Janeiro.Nossa amizade tem ainda outra vertente. Sabedor que estava finalizando os originais do livro "O martírio de Branca Dias", ofereceu, de coração, a colaboração na feitura da capa e de alguns desenhos do miolo da obra, que a valorizaram imensamente. Livro ilustrado por Mário Mendonça é uma sublime preciosidade. Daí o comentário feito na abertura da obra, que será lançada pelo Centro Universitário FMU, em São Paulo: "Artista de muitos prêmios nacionais e internacionais, Mário Mendonça representa na capa a heroína olhando para o alto, com seus lindos olhos verdes, como se apelasse ao Senhor para coibir a violência dos atos da Inquisição."A realidade luminosa de Mário Mendonça encontrou inspiração em Jesus Cristo, talvez o seu momento mais alto de plenitude, na elaboração das obras que marcaram a carreira brilhante de Mário Mendonça. Ele merece, por suas atividades, as homenagens carinhosas da sociedade brasileira, que dele se orgulha.
Começam um a um dos incriminados no processo dos sanguessugas a desistir de voltar às eleições. É como se o excesso de abuso começasse a bater na consciência política, após o escárnio do mensalão. O Congresso já moeu a carne da vergonha até a medula ao absolver os primeiros implicados em manifesto caso de corrupção da República, cosanostra. O País sequer continuou a prestar atenção a um perdão após outro, apesar das manifestações das CPIs, ouvidos moucos e frouxos dos colegas de plenário, tapinha nas costas e chopada com os julgadores de uma hora antes.Do escândalo nas manchetes seguiu-se a vergonha silenciosa diante do País, pela qual a larga maioria do Congresso consagrou, como usos e costumes da política brasileira, o recurso ao caixa 2 e ao uso do dinheiro público para a paga de despesas eleitorais. Não faria verão já, entretanto, a etapa subseqüente da modernização da máfia orçamentária, através da apropriação das verbas federais, a equipamentos públicos e dinheirama, dividida entre o empresário de todas as audácias, e os deputados de todas as emendas e subemendas.No que ainda era o respingo democrático e múltiplo do valerioduto, a esbórnia dos sanguessugas evidenciou já uma burocracia disciplinada da corrupção. No seu trivial, pôde se fartar no baixo clero e, dentro dele, serviu para expor a especial desenvoltura para o crime das neobancadas chegadas ao parlamento. Ou seja, a dos evangélicos, sem a tradição política profissional da traquitana do dinheiro fácil, disfarçado das ambulâncias, franqueadas entre o dízimo dos pobres e a comissão dos novos ricos do Congresso.
Estava nos meus 15 anos. Parecia, porém, ainda mais novo, porque era franzino e frágil. Sabia de cor a metade dos versos de Bandeira, que tinha então 60 anos, mas parecia também mais jovem - um quarentão que os cuidados impostos pela tuberculose conservaram desde a adolescência.
Romancista que assume sua missão - que missão é - de pegar um punhado de seres humanos, colocá-los no palco de sua imaginação e no emaranhado aparentemente indecifrável de acontecimentos, reações, oposições, decisões, orgulhos, desprezos, paixões e ódios existentes no âmbito da narrativa que está sendo feita - romancista, assim, ajuda a promover nosso entendimento de como somos, por que fazemos o que fazemos e por que às vezes chegamos a ações inesperadas e indesejadas.
A distância que vai da antiga ´polis´ dos gregos, com alguns poucos milhares de habitantes, ao Estado contemporâneo, em especial nas sociedades de massa de nossos dias, é a mesma que separa a maioria dos cidadãos da democracia. Esta é, seguramente, a razão pela qual, quase em toda parte, as instituições políticas e os poderes do Estado não são os mais bem avaliados pela opinião pública. A percepção do cidadão é a de que conceitos como política, poder e autoridade não são mais que entraves aos seus direitos.
A sociedade costuma tomar conhecimento de crimes e seus respectivos julgamentos, o que se faz em geral de forma ruidosa. Depois, o silêncio. Qual o destino dos internos que se encontram, aos milhares, nos presídios brasileiros? O que fazem para passar o tempo? A educação seria uma forma de, quando de volta à vida comum, cada um deles ter uma chance de resgatar o convívio? O contrário seria na certa regresso à marginalidade, com as suas tristes conseqüências.No Rio de Janeiro, por iniciativa da Secretaria de Administração Penitenciária e da Secretaria de Estado de Educação, realiza-se um trabalho social de primeiríssima ordem. Há escolas em funcionamento dentro dos presídios e mais oito estão sendo construídas, para propiciar aos internos nada menos de três mil vagas de acesso à educação regular.Na visita ao presídio Elizabeth Sá Rego, em Bangu, foi possível tomar conhecimento desse esforço, liderado pelo dr. Astério Pereira dos Santos. No prazo recorde de três meses, com materiais produzidos pelos detentos e com os custos (baratos) cobertos pela SEE/RJ, estão sendo erguidas as escolas mencionadas, com o propósito de oferecer à população carcerária a oportunidade de uma educação que lhes faltou, desde cedo. Com uma particularidade assegurada pelos educadores empenhados nesse processo: um ensino de qualidade, com a garantia de um viés profissionalizante. Todos estudarão para ter, ao fim do curso, pelo menos uma profissão que lhes garanta, no futuro, a participação no mercado de trabalho.Ao lado disso, estão sendo inauguradas diversas salas de leitura. Tivemos a oportunidade de verificar, com os nomes de escritores consagrados, como Antonio Torres, Heloísa Seixas e Guilherme Fiúza, todos presentes à pequena solenidade promovida pelo Instituto Oldembrug. Vivemos momentos de grande emoção quando o interno José de Araújo Lima, de 52 anos de idade, leu o discurso que preparou para a ocasião, ele que dirigirá a primeira Sala de Leitura. Foi uma peça muito bem construída, com a plena consciência da situação em que ele e seus colegas se encontram, mas com a esperança presente da liberdade sonhada, depois de cumpridas as penas determinadas pela Justiça.
Um dos meus amores são os sonetos e as redondilhas de Camões. Transformou-se de encantamento em xodó e deste em hábito. De quando em vez ou de vez em vez, para acabar com as formas de cansaço de cair no sono, no Luís Vaz, o Tira-Trintas (apelido do poeta que por causa desse colérico gênio deve ter perdido um olho) recolho a calmaria necessária que a poesia pede ao seu leitor. Não quero dizer com isso que esqueci ou estou traindo o Vieira, nas madrugadas de insônia, lido ou escutado nos Sermões gravados, como o Dos Peixes, na voz de Ary dos Santos.
A chegada das opções de voto em Lula a 44%, à entrada de agosto, torna nítida uma maioria de votos que dificilmente se abalará pela televisão, ou por novos escândalos, ou pelo disparo ainda de algum azarão. Heloísa Helena encarregou-se dessa surpresa ao dar voz à radicalidade política, venha do utopismo desabrido, do rigor da detergência partidária, ou do protesto que saiu do voto nulo. É o Lula que ganhará contra o desgosto da classe média e o nariz arrebitado do país rico que não vão agora repetir o seu deslate em votar no operário de todas ditas decepções.
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