
Ficção não científica
[2]Não é de hoje que proclamo minha total ignorância sobre quase tudo neste mundo de Deus e do Diabo, principalmente sobre política.
Não é de hoje que proclamo minha total ignorância sobre quase tudo neste mundo de Deus e do Diabo, principalmente sobre política.
Ou muito me equivoco, ou nunca passamos por um período tão rico em normas e prescrições quanto o presente. Acho que deveria até silenciar sobre o que, segundo li num jornal, vigora na Suécia, porque, para tudo quanto é novidade adotada na Suécia (menos a ausência de mordomias oficiais, pois quanto a isto preferimos nosso atraso mesmo), aparece logo um alegre querendo implantá-la aqui. Refiro-me ao fato de que lá, de acordo com o jornal, o homem que fizer sexo sem camisinha é considerado réu de estupro. Não lembro se isso ocorre mesmo quando a parceira concorda ou se os casados têm de obter um alvará especial, mas essa história de Suécia pega muito nos progressistas nacionais, de maneira que deve ser bom negócio começar a comprar ações de fabricantes de camisinhas.
O que parece estar evidente, na sociedade brasileira, é o cansaço do atual modelo de educação. Em quantidade e qualidade não responde aos nossos anseios. Veja-se o caso do ensino superior. O sonho oficial, agora, é elevar o número de alunos para 10 milhões, em pouco tempo, e para isso o governo faz um curioso apelo à iniciativa privada, tão maltratada durante muitos anos.
Há duas semanas a imprensa vem trazendo ao conhecimento de todos nós, críticas contundentes ao livro didático apoiado pelo Ministério da Educação, que declara em alto e bom som que seus leitores, adultos e jovens alunos, podem dizer “nós pega o peixe” ou “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado". Diante de tanto barulho e de tanta crítica saída dos mais variados setores da sociedade, alguns leitores desta nossa coluna insistem em que comentemos as lições do livro “Por uma vida melhor", cujo capítulo 1 da Unidade 1—Língua Portuguesa— foi preparado pela professora Heloísa Ramos e trata do tema "Escrever é diferente de falar", assunto que se estende pelas páginas 11 a 27. Por mais que tentássemos obter a obra para ter uma ideia mais extensa das lições e da metodologia empregada, não nos foi possível consegui-lo,de modo que nosso comentário se restringirá ao capítulo que deu origem às aludidas críticas. Partindo da tese central de que “escrever é diferente de falar”, encontra a Autora oportunidade para estabelecer a distinção do aprendizado da língua falada [aprende-se a falar a língua materna “espontaneamente, ouvindo os adultos falarem ao seu redor”] e da língua escrita [que “exige um aprendizado formal”(...). “Alguém se dispõe a ensinar e alguém se dispõe a aprender” (...) “Geralmente há local, momento e material próprios para isso”] (pág. 11).
Pelo menos três leitores não compreenderam bem a minha crônica anterior, em que transmiti uma informação certamente não privilegiada sobre a possibilidade de uma renúncia de nossa presidente, motivada por problemas de saúde. Deus é testemunha do quanto torço para que ela supere esses trancos humanos e dê a ela a energia e a sabedoria que nunca lhe faltaram.
No ano em que Portugal entrou no Mercado Comum Europeu, a primeira iniciativa jurídica do governo lusitano, na época, foi a de criar um Código Penal Econômico, para acompanhar a evolução do Direito, já existente noutros países europeus, diante dos delitos contra o abuso do Poder Econômico, os crimes de "colarinho branco", e os prejuízos advindos dos privilégios de uma classe, mais abastada, sobre as demais.
A falta de assunto é regra geral para os cronistas. Eles são avaliados na medida em que tiram leite de pedra. Rubem Braga descrevendo o fim de mundo seria um chato, mas olhando uma borboleta amarela é um gênio.
Língua é alma. E nós começamos a perdê-la. No momento em que o Ministério de Educação permite a publicação de um livro, denominado 'Por uma vida melhor', da coleção 'Viver e aprender', em que tudo é permitido no que tange à concordância, considerando corretas orações como "nós pega o peixe" e "os menino pega o peixe", temos que registrar o protesto. Como diz o poeta, "podemos não saber o que desejamos. Mas sabemos o que não queremos".
É sabido que, como povo, temos lá nossas lacunas de memória. Nem sempre cultuamos os nossos mitos, o que faz com que os jovens tenham pouco apreço ao passado. Essa não pode ser uma atitude elogiável.
É o velho e sábio Salomão quem nos diz -e tem sido repetido ao longo dos milênios- que "nada há de novo debaixo do sol". Esse trecho está na passagem em que fala que há o dia de plantar e o de colher, chegando a dogmatizar que "uma geração vai e outra geração vem, mas a Terra permanecerá para sempre".
Franco Zeffirelli passou temporadas no Rio e numa delas montou uma ópera no Municipal. Convivi com ele, naquela ocasião. A ideia original era uma apresentação de "Tosca", mas ele preferiu "A Traviata", que é uma adaptação da "Dama das Camélias". Insisti pela ópera de Puccini, embora nada tivesse contra a obra de Verdi.
Um sultão decidiu fazer uma viagem de navio com alguns de seus melhores cortesãos. Embarcaram no porto de Dubai e seguiram em direção ao mar aberto. Entretanto, assim que o navio se afastou da terra, um dos súditos – que jamais tinha visto o mar e passara grande parte de sua vida nas montanhas–, começou a ter um ataque de pânico.
Que está complicado, está. Com poucos meses no poder, o atual governo dá a impressão de que não sabe o que está fazendo em Brasília. Justamente neste arranco inicial, quando é habitual a lua de mel dos novos mandatários, a coisa parece embananada, e pior do que embananada, suspeita de complicações maiores.
A língua inglesa nunca teve academias para formular gramáticas oficiais e certamente seria afogado no Tâmisa ou no Hudson o primeiro que se atrevesse a tentar impor normas de linguagem estabelecidas pelo governo. Sua ortografia, que rejeita acentos e outros sinais diacríticos, é um caos tão medonho que Bernard Shaw deixou um legado para quem a simplificasse e lhe emprestasse alguma lógica apreensível racionalmente, legado esse que nunca foi reclamado por ninguém e certamente nunca será, apesar de algumas tentativas patéticas aqui e ali. Ingleses e americanos dispõem de excelentes manuais do uso da língua, baseados na escrita dos bons escritores e jornalistas – e, quando um americano quer esclarecer alguma dúvida gramatical ou de estilo, usa os manuais de redação de seus melhores jornais.
Diretor de importante instituição nos envia pergunta sobre plural de compostos, que é, em nossa língua, um fato nem sempre sistematizado, quer na tradição de nossos melhores escritores, quer no uso oral e escrito dos usuários da língua.
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