
Não faça nada você também
[2]Como se sabe, os escritores profissionais, sofrida laia em que as Parcas me incluíram, certamente por graves malfeitorias cometidas em encarnações passadas, não costumam conversar sobre literatura. Se algum de vocês conseguisse transformar-se por algum tempo na proverbial mosquinha espiã e bisbilhotasse a mesa de bar onde alguns estivessem congregados, notaria logo que a maior parte, bem como a dos outros artistas que vivem de suas artes, conversa sobre como garantir o supermercado da semana e armar defesas para não trabalhar de graça, ou em troca dos famosos pagamentos simbólicos que todos acham apropriados para eles, embora, como já tive oportunidade de observar aqui algumas vezes, os estabelecimentos comerciais se recusem a aceitar símbolos como moeda.