
Crise no ar
[2]Usuário do transporte aéreo, já tive medo dos aviões, mas em tempos idos. Viajando todas as semanas num deles, o hábito e o cansaço venceram o medo.
Usuário do transporte aéreo, já tive medo dos aviões, mas em tempos idos. Viajando todas as semanas num deles, o hábito e o cansaço venceram o medo.
A presença de Martin Heidegger na filosofia do século passado obrigou o homem de nossa época a alterar posições e repensar diretrizes. Se o existencialismo de Kierkegaard possuía um caráter de angustia intensamente exprimida (e talvez por isso mesmo fosse mais intensamente existencialista), faltava-lhe um método para que suas idéias se enfeixassem num sistema ao agrado das correntes filosóficas normais.
Não estranhem o título em inglês. Na Barra da Tijuca tudo está escrito em inglês e na TV já aparecem programas como Big Brother, Classic, People & arts etc.
O conceito de retórica, citado em artigo de Luiz Paulo Horta nesta página, tem sido desfigurado, ainda mesmo entre pessoas de escolaridade confiável. Neste vocábulo, há quem veja algo de pejorativo ou de inferiorizante.
Aposto que vocês ainda não sabem do triste caso de Bingo. Procurei comentá-lo com vários amigos e ninguém tinha ouvido falar de nada sobre o assunto, para mim palpitante e talvez um marco em nossa realidade. Como eu já disse aqui, às vezes parece que sou o único a ler certas coisas, a ponto de recear ser tido como mentiroso. E, de fato, de vez em quando eu conto uma mentirinha, mas é caso raro, perfeitamente compreensível para um ficcionista e nunca suficientemente sério para justificar essa fama. Mas o caso não é inventado, é um drama da vida real e estou com o recorte na mão, para mostrar a quem duvidar da história comovente de Bingo, que, apesar de seus aspectos talvez melancólicos e certamente controvertidos, acaba por abrir caminho para vários progressos, em que o país, mais uma vez, poderá servir de exemplo para o mundo e alento para os brasileiros já descrentes das instituições, como acho que está a maior parte de nós.
Pelo fato de ter quatro livros de versos, perguntaram-me se me considero poeta, a pergunta mais embaraçante que até agora me foi feita.
A moça, estudante de letras, me perguntou o que eu achava da avassaladora invasão de neologismos no nosso idioma. Bem, acho que da nova linguagem que acompanhou e acompanha a era dos computadores, é muito difícil escapar. Ninguém vai ficar inventando traduções para coisas que não fomos nós que inventamos e a maioridade nós mal sabemos do que se trata. Deletar, por exemplo, não tem um sentido muito mais amplo do que simplesmente apagar? Mas não quero me arvorar nessa discussão de filólogos, mormente que não me entendo com computador. Aliás, fora esses, que vêm no bojo das novas tecnologias, neologismos, principalmente os de gíria, têm quase sempre nascimento humilde. As pessoas mais cultas, ou escutam as palavras difíceis na sua própria casa ou as consultam nos dicionários. O ignorante comum tem seu próprio dicionário na cabeça, restrito, é verdade, muito faltoso na conjugação dos verbos, mas dono de um toque pessoal iniludível.
Todos os dias, mal acordo, abro a porta da copa e recebo os jornais que acabaram de chegar. Estou sonolento, ruminando os sonhos bons ou maus que tive, vontade de nada fazer, de mandar tudo àquela necessária parte que todos conhecemos.
O Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, dado este ano ao nosso melhor crítico, Wilson Martins, chama a atenção para um lado, que é dos mais trabalhosos, da literatura, responsável pelo aferimento do que fazemos, ou pensamos fazer, quando mergulhamos na palavra. A bibliografia do premiado revela uma dialética de pensamento que nos mostra, e à nossa literatura, como donos de um caminho singular, próprio, seja em que gênero for. Em homenagem ao maior prêmio do País concedido a Wilson Martins, desejo tratar hoje de um mestre da crítica, George Lukacs, que, no século passado, abriu caminhos e ditou rumos.
Não sei nem quero saber quem inventou a mania de comemorar os centenários. Mas já que eles existem, devemos comemorá-los com boa vontade, eles podem nos ensinar coisas inúteis, como por exemplo, numa certa tratoria de Nápoles, foi feita a primeira pizza marguerita.
Vivemos sob o império do Tempo, que talvez devesse estar sempre escrito com T maiúsculo. Não só escrito, mas também dito, pondo-se uma ênfase na pronúncia da palavra, de tal modo que se entenda logo que falamos de coisa muito séria. A palavra grega "chronos" ficou na memória dos povos e serviu de base a discursos e conceitos.
Como se andássemos no escuro, tateando, descobriu-se agora que o Brasil tem 30 mil menores infratores. São adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em nossos diversos Estados, com as seguintes características, segundo dados oficiais do Ministério da Justiça: 7 664 estão internados em regime fechado (como no Instituto Padre Severino, na Ilha do Governador); 2 555 em regime provisório; 1 393 em semiliberdade e 19 099 em liberdade assistida, que ninguém sabe direito do que se trata, pois é fácil observar que eles voltam às ruas para os mesmos delitos, já que não há cuidados especiais do Estado com as causas que motivaram esse comportamento.
Como diria Machado de Assis, "no meu tempo já havia velhos, mas poucos". Os evangelhos usaram outra forma. Mais antigos do que Machado, eles não falam "no meu tempo", mas "naquele tempo". Naquele tempo, disse Jesus, naquele tempo um homem vinha de Samaria, naquele tempo, o rei Heródes mandou degolar as criancinhas.
Quando eu era rapazinho, creio que, em um ou dois filmes cuja ação se passava em Roma antiga e que durante um certo tempo eram muito comuns, vi algumas cenas em que dois patrícios romanos, com ar preocupado, falavam-se:
Acho que todos os brasileiros estamos sentindo uma espécie de complexo de Herodes; co-responsáveis nesse morticínio espantoso de recém-nascidos do qual diariamente jornais, radio e TV dão notícia.
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