
A imagem do parlamento
[2]No título da matéria de capa do número desta semana da revista Veja , vem a expressão "um golpe na imagem do parlamento". Sem dúvida, o presidente da Câmara dos Deputados é conhecido como " rei do baixo clero."
No título da matéria de capa do número desta semana da revista Veja , vem a expressão "um golpe na imagem do parlamento". Sem dúvida, o presidente da Câmara dos Deputados é conhecido como " rei do baixo clero."
Napoleão dizia que a imaginação governa o mundo. Tal afirmação foi recolhida por Paulo Rónai do Memorial de Santa Helena, de Emmanuel Les Cases, e não há por que duvidar dela. Mas não deixa de ser espantoso o fato de o guerreiro e estadista sob cuja espada grande parte da Europa foi governada no século 19, admitir, no exílio, a primazia da fantasia e da fábula sobre a realidade.
Roland Corbisier, falecido a 10 de fevereiro último, foi o primeiro diretor do ISEB: instituto que, há quase meio século, procurou formular a ideologia do nosso nacionalismo, amarrada à vigência do desenvolvimento. Buscava o impacto mobilizador de uma efetiva tomada de consciência pelo país do seísmo em que importara, à época, a perspectiva dos ''50 em 5'' de Juscelino. Refletia o salto para a mudança, implicando a revisão de tantos mitos, desde a inevitabilidade do progresso até o da nossa condenação ao fracasso no quadro das velhas pestiferações de raça, da preguiça, ou do povo, como denunciava Monteiro Lobato, feito dos Jecas-tatus, à margem da história. O ISEB, empenhado na autoconsciência dos movimentos sociais, viria necessariamente a se chocar com as visões corporativas, ou dos atores privilegiados para o desenvolvimento, tal como das Forças Armadas, a comandar este processo, consoante os imperativos geopolíticos e estratégicos da Segurança Nacional.
Um dos aspectos mais ridículos da mídia é que, em linhas gerais, ela deixou de se pautar pela realidade, trocando-a pelas manifestações periféricas da TV, do cinema e, pasmem!, da própria mídia. Quando um repórter sugere determinado assunto em reunião de pauta, recebe pronta aprovação se, em vez de partir da realidade escancarada à frente de todos, ele invoca um filme em cartaz, um determinado momento da novela que está dando ibope, um disco que será lançado e cujo marketing empurra pela nossa goela uma transcendência inexistente.
Colega de página, Benedicto Ferri de Barros citou em sua coluna, na última segunda-feira, o sábio chinês Lao-tsé, que há trezentos anos antes de Cristo já condenava o abuso do poder supremo dos governos a sobrecarregarem a economia do povo com impostos extorsivos. Como os que pesam sobre os brasileiros em nossos dias. Segundo a citação de Lao-tsé, "o povo sofre porque seus governantes comem demais por meio dos imposto". É o caso brasileiro.
Dos romances publicados no Brasil no século passado, poucos atingiram a pungência de "Lições de abismo", de Gustavo Corção, livro filiado à linha de Cornélio Pena, Lúcio Cardoso e Adonias Filho, cultores de uma ficção que se apega aos acontecimentos internos de uma vida, à essência mesma do que acontece a seres humanos, atendo-se ao significado maior da realidade de um momento, ao redor da qual possam estar gravitando pequenos pedaços de uma realidade maior.
Duas semanas atrás, com retumbante espaço na mídia, dom Paulo Evaristo Arns falou sobre a necessidade de João Paulo 2º renunciar ao papado. Apesar do estardalhaço que acompanhou suas declarações, parece que o papa não tomou conhecimento de seu apelo.
Há mais de 30 anos o padre Lebret, fundador do movimento Economie et Humanisme , publicou vários artigos defendendo a tese de que a França era terra de missão.
O MEC, ao longo da história, sofreu todo tipo de influência. Quando era moda apresentar soluções de direita ou de esquerda, divertimo-nos bastante com idéias até generosas, mas que não entraram no domínio objetivo da prática.Querem um exemplo? Vamos acabar com o analfabetismo até o ano tal. Entramos noutro século, as promessas ficaram na saudade, e hoje ainda temos cerca de 14 milhões de iletrados, fora os milhões que somente sabem assinar mal e porcamente o nome, para alegria de alguns políticos do interior. São os coronéis da ignorância.
Deus é testemunha de que nunca tinha ouvido falar em Severino Cavalcanti, nem podia imaginar que ele existisse, tal como é, com seus defeitos, cantados e recantados pela mídia, e com suas qualidades, que certamente as tem. Swift dizia que até o Demônio tem qualidades, pois cultiva há séculos uma das virtudes teologais, a esperança de fazer nós todos piores do que já somos.
Está coberto de razão o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, qualificando de lamentável e, mesmo, triste, o assassínio da missionária Dorothy Stang, em trabalho no Amapá.
Como se sabe, os escritores profissionais, sofrida laia em que as Parcas me incluíram, certamente por graves malfeitorias cometidas em encarnações passadas, não costumam conversar sobre literatura. Se algum de vocês conseguisse transformar-se por algum tempo na proverbial mosquinha espiã e bisbilhotasse a mesa de bar onde alguns estivessem congregados, notaria logo que a maior parte, bem como a dos outros artistas que vivem de suas artes, conversa sobre como garantir o supermercado da semana e armar defesas para não trabalhar de graça, ou em troca dos famosos pagamentos simbólicos que todos acham apropriados para eles, embora, como já tive oportunidade de observar aqui algumas vezes, os estabelecimentos comerciais se recusem a aceitar símbolos como moeda.
QUASE NÃO CONHECEMOS A HISTÓRIA de Esopo, embora se diga que nasceu em torno do século VI a.C. e foi escravo de um homem chamado Jadmon (ou Janto de Samos). Suas fábulas, reunidas por Demetrio em 300 a.C., nos dão uma visão complexa e completa do comportamento humano. Um dos eventos mais traumáticos desta década, a guerra do Iraque, fez-me lembrar a famosa parábola do lobo e do cordeiro: como Bush estava decidido a invadir de qualquer maneira o país, procurou todos os pretextos possíveis - armas de destruição massiva, programa nuclear em desenvolvimento, ligações com a organização terrorista Al-Qaeda. Quando Hans Blix (Unmovic) e Mohamed ElBaradei (Iaea) afirmaram nos tensos encontros do Conselho de Segurança da ONU que não havia indício algum que comprovasse tais alegações, Bush resolveu dar as costas às Nações Unidas, e a invasão aconteceu assim mesmo. Mesmo agora, quando as buscas pelas tais armas de destruição massiva terminaram sem resultados, Bush saiu-se com uma espécie de “mas ele estava tentando fabricar”, e a coisa ficou por isso mesmo.
Para falar a verdade, ainda não sei se estou louvando ou lamentando a eleição do Severino para a presidência da Câmara dos Deputados e para o terceiro cargo mais importante da República.
O coloquial, tão próprio da identidade latina, encontra na matriz haitiana um adensamento inesperado. Nasceu o país de um levante escravo, num quadro de ruptura sem memória ou invocação do passado. E todo prospectivo, por aí mesmo, num grau de simultaneidade agressivíssima com o padrão da época, tanto a guerra de independência de Toussaint L"Ouverture ou de Christophe os projetou no maior fastígio da era napoleônica.As identidades se fazem de logo a partir dessa quase intoxicação com a conquista do poder e o direito a ombrear-se com o imperador, em Paris, de irmão a irmão, nas cartas, cujo intimismo leva ao espanto e à rejeição do corso. É toda a toalete, o garbo, as insígnias e cocardas e, sobretudo, o chapéu da grand armée que imanta de logo o imaginário dos homens de Cap Haitien, de Gonaives e de Port au Prince. Muito, subseqüentemente, da irritação de Napoleão com Toussaint nasceria da insolência dessa primeira assimilação.
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