Fila anda para João Ubaldo
[1]Publicada em 05/03/2008
De editora nova, o acadêmico revela porque trocou a Nova Fronteira pela Alfaguara.
Publicada em 05/03/2008
De editora nova, o acadêmico revela porque trocou a Nova Fronteira pela Alfaguara.
Publicada em 14/02/2008 (atualizada em 15/02/2008)
Publicada em 24/01/2008 (atualizada em 25/01/2008)
Publicada em 10/01/2008 (atualizada em 11/01/2008)
Conheça os imortais que são os aniversariantes do mês.
Publicada em 02/01/2008 (atualizada em 03/01/2008)
As obras "Sargento Getúlio" e "Viva o povo brasileiro", do acadêmico João Ubaldo Ribeiro, serão reeditadas.
Publicada em 18/12/2007 (atualizada em 19/12/2007)
Publicada em 13/12/2007 (atualizada em 14/12/2007)
Na semana retrasada, já tive a oportunidade de observar penitentemente que vamos muito bem. Na semana passada, sedento de assuntos que servissem para um pau-mandado da conspiração da grande imprensa ou para um mercenário dos sórdidos interesses da Zelite ou qualquer dessas outras condições das quais de vez em quando me acusam, procurei avidamente de que falar mal e, suprema humilhação, não encontrei praticamente nada. Pelo contrário, a julgar pelas notícias que ouço e leio, pelos comerciais do governo e pelo que o presidente diz, acho que devo concluir que o famoso primeiro mundo está cada vez mais próximo e que, assim como quem não quer nada, praticamente chegamos lá e nem notamos.
“Regresso de Itaparica com o ânimo elevado, não só pelo que lá vi como pelo que vejo cá”
No fim deste mês, como todo ano, deverei passar uns dias em Itaparica. A vida está parecendo cada vez mais que quer dar a apressadinha do fim, os amigos vão sumindo, dá saudades da infância, que os anos não trazem mais. No caso de Itaparica, não é impossível que a própria ilha suma, porque o nível do mar está subindo e todas as ilhas como ela desaparecerão. Num futuro bem remoto, quem sabe, talvez até questionem sobre se a ilha alguma vez existiu mesmo, como hoje fazemos com Atlântis. Entrarei na História, Deus permitindo, como um dos maiores mentirosos brasileiros de todos os tempos, inventor até de uma ilha e seus habitantes.
Já escrevi, aqui e em não sei mais lá em quantas publicações, a respeito do Sete de Janeiro, mas receio que bem poucos lembrem qualquer coisa da verdadeira data magna da independência brasileira. Meu avô, o coronel Ubaldo Osório, historiador, patriota e orador cívico, nunca se resignou com tal injustiça e quem o ouvia desdenhar do Sete de Setembro logo se contaminava com sua indignação. Amanhã, é claro, devia ser feriado nacional, pois é a data em que os itaparicanos expulsaram definitivamente o opressor lusitano e a ilha se tornou, no longínquo 1823, quiçá o primeiro solo realmente brasileiro. Bem sei que outras cidades, notadamente no recôncavo baiano, reivindicam a mesma glória, mas advirto aos que assim pensam, em qualquer parte do orbe terrestre, que o fantasma de meu avô, com o sobrolho cerrado e as bochechas panejando de cólera, virá assombrá-los, tão certo quanto o domingo vem depois do sábado.
Não sei se alguém já disse isto, mas tudo neste mundo é relativo. Por exemplo, não escondo ou diminuo minha idade, embora não censure quem o faça, mas tampouco a aumento, como já foi minha prática corriqueira. Ao matutar agora, neste fim de ano que como sempre nos traz um estado de espírito diferente, lembro o tempo comoventemente patético em que, na companhia de amigos corajosos, dispensava a carteira de estudante que, em troca da meia-entrada, me denunciava a idade, para enfrentar com a bravura possível a severidade do porteiro do cinema, quando estava passando "filme impróprio". Entregava meu ingresso e me embarafustava pela passagem, antes que meu rosto imberbe e cheio de espinhas chamasse a atenção do porteiro. A maioria deles era simpática, mas havia um (não esqueço a cara dele, baixinho de bigode, hoje certamente falecido e Deus o tenha, embora eu não faça tanta questão), no antigo Cine Glória em Salvador, que me pegava sempre e que quase me fez perder a cena em que aparecia um peito de Françoise Arnoul, num filme em que ela era amante de Fernandel.
- Você vê como são as coisas. Antigamente, no Natal...
Na quarta-feira passada, sabedor de que, no Senado da República, estaria sendo travada a grande batalha democrática da CPMF, liguei a TV cedo, mandei buscar farto suprimento de pipoca e, juro a vocês, assisti a todo o espetáculo, com exceção dos comparativamente raros momentos em que caí no sono e fui logo despertado por um dos muitos brados retumbantes dados no plenário. Eu não me perdoaria se perdesse aquelas cenas, que, para começar, só podiam acontecer no Brasil mesmo. Imagino que, em qualquer outro país, o espanto seria absoluto e muita gente não ia acreditar nem vendo.
Certas coisas são meio chatas de confessar, e eu não devia contar nada, mas o assunto não me sai da cabeça e, como sempre, se impõe despoticamente, o que significa que vou falar nele. E não posso mentir, não só porque mentir decerto está na moda, mas é feio, como porque, se mentisse, estaria escamoteando justamente o sentimento que agora me acompanha para todo lado. Fiz o possível para escrever sobre outras coisas, chega de reclamar do governo e dos governantes, é domingo, vamos mudar de assunto, vamos nos alienar um pouco, não é pecado tão grave assim. Eu não quero ser como o colega de serviço que chega para a rodada de cerveja da sexta à noite e a primeira coisa em que fala é na previsão de faturamento em dezembro.
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