
Um fundamentalismo sem profetas
[2]O que mais porta de espanto esse começo de 2006? A violência das reações às charges contra Maomé no jornal de Copenhague, fogos às embaixadas e pisoteio da bandeira vermelha e branca, a se somar ao ultraje de sempre do pendão americano? Ou o espanto do Ocidente com esta reação, pondo pela primeira vez em risco os nervos das melhores democracias, a viabilidade de coexistência com este Islão? A dúvida nasce do próprio país de Hamlet, horrorizado entre o impacto das caricaturas, e a defesa do mais enraizado dos direitos da dita civilização ocidental, ou seja, a livre expressão do pensamento e da liberdade de imprensa.Confrangidos, os dinamarqueses lamentam a catástrofe mas não pedem desculpas. Até onde começa, vindo da cepa do mundo mais desenvolvido, o novo fundamentalismo de resistência e afirmação das liberdades? E mesmo ponha em risco a atual realpolitik de convivência como mundo rachado após a queda das torres? Na verdade, choca a bulha, a bem dessa mesma consciência, entre o acatamento do exercício à liberdade de crítica, e o respeito às religiões.