
A roubalheira num boteco do Leblon
[2]Claro, nós estamos acostumados desde a infância. Acho que das primeiras coisas que me lembro na vida é meu avô dizendo na mesa do almoço que aqui no Brasil só tinha ladrão.
Claro, nós estamos acostumados desde a infância. Acho que das primeiras coisas que me lembro na vida é meu avô dizendo na mesa do almoço que aqui no Brasil só tinha ladrão.
Hoje em dia, em todos os países, nos acostumamos a escutar com respeito e reverência os chamados “cientistas políticos” - como se a política fosse algo igual à matemática ou à física - seguindo uma série de regras lógicas e racionais. Se assim fosse, não estaríamos vendo a violência na América Latina, a miséria na África, os confrontos religiosos espalhados pelo mundo inteiro, os americanos e iraquianos mortos em nome de uma causa perdida e de uma guerra arbitrária. Se política fosse uma ciência, mesmo inexata, bastaria aplicar algumas equações certas e conseguiríamos empurrar adiante a civilização e o ser humano.
O Iraque passa a ser um exemplo didático que não se esgota na guerra, na invasão, na bagunça sangrenta em que se transformou. É um espelho a refletir sobre a total falta de senso. Quando quiserem fazer coisas inúteis, melhor advertir: não façam Iraque.
Nos idos dos anos 50, eu e Lêdo éramos apenas mais dois personagens no extenso fabulário da nossa comum geração de jovens nordestinos nômades que emigravam de suas terras secas lá, no Nordeste, para virem batalhar por um lugar ao sol nesta selva das grandes cidades. Lembro-me bem dos nossos inesquecíveis tempos na Tribuna da Imprensa, quando ele, bem cedinho, irrompia pela redação adentro, na Rua do Lavradio, e ia logo perguntando em alto e bom som:
A prova de que o presidente Lula não faz medo a seus colaboradores e lobistas, como faria, sem dúvida para quem o conheceu, Jânio Quadros, está na ação ostensiva com que agem, nas compras para a Saúde, preços do superfaturamento das aquisições, que são vultosas, as empresas fantasma para despistar a polícia, e outros ardis em que são férteis as imaginações dos corruptos que aproveitam a falta de autoridade do presidente e de seus companheiros mais próximos, para ganharem sem parar.
Antes das eleições, que conduziram Lula ou Da Silva, como prefere o New York Times , o melhor jornal do mundo, estávamos certíssimos que era ele o homem para frear o ímpeto subversivo, insurrecional, desordeiro, mesmo, do MST. Para nós o presidente Lula ou Da Silva iria por cobro aos abusos e, ao mesmo tempo, aos lucros dos falsos reivindicadores de terras, pois que as vendem quando as recebem e o que vemos é o presidente Lula ocupar-se de tudo, menos de coibir, com energia, os invasores de propriedades legitimas e alheias ao movimento.
Na tradição judaica, os macabeus, muito valentes, venceram inúmeras lutas em que se empenharam, especialmente contra os romanos, para reconsagrar em Jerusalém o Grande Templo e o seu respectivo Altar.
Às vezes, até admito que por excesso de escrúpulos, tenho vontade de escrever aqui sobre a importância do livro e não escrevo, porque não quero expor-me à suspeita de que advogo em causa própria. Afinal, sou escritor e, portanto, interessado em que a difusão do hábito de ler seja vigorosamente impulsionada. E o receio piora porque é surpreendente o número de pessoas que acha que escrever livros bem vendidos, o que por acaso acontece comigo volta e meia, é fonte certa de riqueza. Mesmo em conversas com gente informada, descubro que pensam que o que pagam pelos livros vai quase inteiramente para o bolso do felizardo autor e tomam um susto quando lhes conto como se passam as coisas. E, isto, embora não tenha muita importância para o que pretendo dizer, me motiva a uma explicaçãozinha preliminar.
A brasa solitária
Helmut Schmidt, ex-chanceler da Alemanha, notável estadista, fazendo visões e profecias sobre o século 21, disse que "o novo e o atual século será da Índia, e não da China".
Mesmo nos anos mais duros da guerra, quando os aviões da Luftwaffe despejavam bombas sobre Londres e outras cidades inglesas, Winston Churchill jamais dispensou uma garrafa de champanhe ao almoço e outra ao jantar; uma dose de uísque ao entardecer e duas ou três antes de deitar-se, às duas da manhã. Então metia-se na cama, dizia para si mesmo ''danem-se todos!'' e dormia tranqüilamente, sem sonhar. Alcançar objetivos concretos, na paz ou na guerra, constituía para ele algo melhor do que o sonho. E se a realidade incluísse garrafas de fermentados ou destilados, melhor.
A medida do verso, a métrica, o ritmo, a cadência, a pulsação de um grupo de palavras dispostas em determinado jeito, tudo o que dá à poesia seu caráter de canto, de cântico, de cantiga, de peça oral vocabular, de monólogo cantado em silêncio, tudo está ligado a movimentos e ao compasso da vida comum dos homens, a seus ritos cotidianos e a seus passos, rápidos ou mansos, em cima de um chão.
Quem freqüenta os restaurantes dos Jardins e não toma conhecimento, por exemplo, do Bom Prato, da rua Francisco Alvarenga, na várzea do Carmo, não faz idéia do acerto da pesquisa do IBGE, sobre as necessidades da família brasileira, mesmo numa capital de alto poder aquisitivo, como é São Paulo. Os restaurantes cheios, enquanto em numerosos lares o menu, se pode usar a palavra francesa, é dos mais pobres, de fazer pena aos corações sensíveis.
Não adianta falar mais, o assunto já é velho e interessa a relativamente poucos leitores. Como tudo em nosso tempo, durou pouco e foi esgotado pelos consumidores de informação que nos tornamos. Transferimos para a informação e mesmo para a denúncia os hábitos de consumo contemporâneos. Tudo é objeto de consumo ávido, cansa e fica obsoleto às vezes em minutos, o que se exemplifica pela lembrança, apenas um pouco exagerada, de que, ao tirarmos um computador novíssimo da embalagem, ele já está superado por novo lançamento. Da mesma forma - e o comentário está virando lugar-comum - a maioria dos que hoje são chamados de “celebridades” permanece nessa condição durante alguns dias ou meses, para depois sumir.
Lá fora a cidade de Estocolmo preparando-se para o inverno. No bar, converso com uma popularíssima cantora européia. Discutimos sobre fama, sucesso e, em dado momento, ela me pergunta se tenho algo importante a ensinar-lhe.
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