É um Natal triste. Podemos enfeitar as avenidas, as ruas, as casas e a nós mesmos. Ainda não saiu o saldo financeiro que beneficiou o comércio. De qualquer maneira, houve ceias, papais Noeis vagabundos andando pelas ruas e provocando o medo nas crianças. No fundo, o Natal transformou-se num produto comercial, embora tenha o mérito de reunir a família, os amigos e até mesmo alguns inimigos.
Para valer, o Natal é uma festa de meditação e silêncio. "Dum medium silentium... Foi num grande silêncio que Jesus nasceu". Esse silêncio só foi quebrado pelo coro dos anjos que cantavam a gloria de Deus e a paz aos homens de boa vontade.
Repito, é um Natal triste. Temos prisões, investigações e a constatação de que estamos cercados de ladrões. É um Natal triste. Os Estados Unidos e a Coreia do Norte poderão acabar com o mundo. É um Natal triste, não recebi o presente que julgava merecer.
Passei um Natal preso numa cela da rua Barão de Mesquita, que se tornou célebre durante os anos de ditadura. Não guardei o nome do coronel que comandava aquela parcela do Exército. Quase no fim da noite, a porta se abriu e dois soldados empurraram uma mesinha com a ceia de Natal da casa do próprio coronel.
Tinha de tudo. Rabanadas, castanhas, nozes, tâmaras, passas e uma garrafa de vinho. Foi um caso especial, talvez único. Embora preso, não tive um Natal triste como o de hoje.
Meu companheiro de cela era Joel Silveira, foi famoso correspondente da Segunda Guerra que abalou o mundo. Tínhamos a certeza de que, apesar de muito sangue derramado, teríamos paz, paz que infelizmente durou pouco.
Não importa. A esperança confirmava o sonho de um país melhor, que ainda não tivemos.