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A andorinha e o verão

 

De grão em grão, a galinha enche o papo. Pancada de amor não dói. Uma andorinha não faz verão. Não sou contra os ditados populares que antigamente os eruditos chamavam de anexins. Reconheço que eles expressam o "veredicto dos séculos".

Penso nisso quando são comemoradas as festas coletivas como o Natal, o Carnaval e o Ano Novo, que unem a humanidade numa só razão positiva e benéfica. Podem ser ponto de partida para um mundo melhor.

Estamos vivendo mais uma Olimpíada, talvez a celebração mais antiga que os homens inventaram. Antes de mais nada, é uma festa de homens e mulheres, inclusive de países que formam o gênero humano em sua maior acepção.

Elas não se realizam em tempos de guerra ou de grandes conflitos e tragédias universais. Apesar dos pesares é uma festa de paz e até mesmo de alegria, por pior que esteja a política, a economia e outros conflitos localizados, entre os quais o pior é o terrorismo, seja de que lado for.

Uma Olimpíada pode revelar um instinto perverso. Assim foi quando Nero, na Antiguidade, mandou construir um Arco do Triunfo para ele, que ganhara absurdamente uma medalha de ouro numa competição de poesia, modalidade que não mais existe nos tempos modernos. Foi um detalhe esclarecedor do que viria depois, com Nero incendiando Roma e matando cristãos.

Outra Olimpíada, mais recente, revelou o instinto assassino de Adolf Hitler. No início da ascensão do nazismo, em 1936, construiu um magnífico estádio e tentou convencer o mundo de seus propósitos humanitários. No entanto, fazendo do racismo o único valor da raça humana, recusou-se a apertar a mão de Jesse Owens, um negro americano que ganhou quatro medalhas de ouro, sendo considerado o maior atleta de todos os tempos, derrubando o mito da superioridade ariana. 

Folha de São Paulo (RJ), 07/08/2016