
Os 15 minutos de fama
[2]No quinto minuto já tinha decidido: ficaria e enfrentaria a situação. Mostraria que podia estar por cima da carne seca
No quinto minuto já tinha decidido: ficaria e enfrentaria a situação. Mostraria que podia estar por cima da carne seca
Sou do tempo - ai de mim - em que a missa era em latim e nós, meninos, dizíamos ''''confiteor'''', antes de tremulamente confessarmos ao flamívomo (dicionário, dicionário; quem leu Euclides da Cunha deve saber) padre Brito, o qual nos lembrava sem cessar como eram espaçosas as portas do inferno e ardilosas as mil trapaças enredadas pelo Inimigo, que havíamos espiado a vizinha tomando banho. Então achei por bem confessar-lhes alguns pecados meus, involuntários embora, bem-intencionados certamente, mas isso - ai de mim outra vez, porque se esperam grandes lamentações da parte dos penitentes - não impede assistir razão ao bom São Bernardo, que, segundo me ensinaram, foi quem pela primeira vez observou que o caminho do inferno é pavimentado de boas intenções.
O abade Abraão soube que perto do mosteiro de Sceta havia um ermitão com fama de sábio. Foi procurá-lo e logo perguntou: “Se hoje você encontrasse uma bela mulher em sua cama, conseguiria pensar que não era uma mulher?”. “Não”, disse o eremita, continuando a frase: “mas sei que conseguiria me controlar”. O abade insistiu com os questionamentos: “Então vamos imaginar uma outra situação inusitada. E se você fosse procurado por dois irmãos, um que o odeia, e outro que o ama, conseguiria achar que os dois são iguais?”. E o ermitão respondeu sem sequer pestanejar: “Tenho a certeza de que, mesmo sofrendo por dentro, eu trataria o que me ama da mesma maneira que o que me odeia”. “Vou lhes explicar em pouquíssimas palavras o que é um sábio”, disse o abade aos seus noviços, quando voltou. E completou: “É aquele que, ao invés de matar suas paixões, consegue controlá-las”.
Conheci Yasser Hareb durante um encontro em Paris. Discutimos muito sobre a última ponte intacta em um mundo cada vez mais dividido: a cultura. Apesar de tudo que estamos vendo, ainda existem valores comuns, e isso pode nos ajudar a compreender nosso próximo. Pedi a Yasser que escrevesse algumas histórias de sua região, que transcrevo (resumidos) a seguir. Por que está chorando?
RIO DE JANEIRO - O Rio amanheceu cantando... Não, não era isso que queria escrever, e sim: "O Rio amanheceu cheio de vacas". Não entendi bem o que tantas vacas faziam na paisagem da cidade, tradicionalmente sem elas, desde que uma lei municipal proibiu estábulos nos limites urbanos da então capital da República.
A vitória de Rafael Correa nas eleições para a Assembléia Constituinte do Equador vai ao fundo desta nova virada de página da América andina começada pela Venezuela, no confronto entre o centro e a periferia num mundo hegemônico. O regime democrático transformou-se na plataforma para a largada dessa legitimidade política nesta ruptura com o status quo, e a densidade do voto opção que hoje associa Caracas, La Paz e Quito.
RIO DE JANEIRO - O editor Ênio Silveira estava engraxando os sapatos numa dessas cadeiras altas que mal comparando parecem o trono de um soba nos confins da África. Ele gostava de conversar com gente do povo e perguntou se o engraxate temia o comunismo, fantasma que o governo de então considerava na iminência de tomar conta do Brasil.
Apesar de uma corrente poética haver defendido a presença de uma história, de um enredo mesmo, no poema, a preeminência da canção jamais deixou de predominar na poesia de qualquer tempo. A frase de Paul Éluard - "A poesia é a linguagem que canta" - serviu, no século XX, de lema para poetas de várias tendências, embora Ezra Pound haja condenado o cântico exageradamente usado na poesia, tendo mesmo achado muito "declamatório" o verso de Spenser "Sweet Thames, run softly till I end my song" - "Doce Tâmisa, flui manso até o fim de minha canção" - que é um trecho muito citado do poeta inglês.
O Estado deve fazer a sua parte nessa nova relação, reduzindo a burocracia em seus símbolos mais evidentes: os carimbos e os guichês.
Está certo que devemos cuidar de nosso corpo. Está certo que devemos aproveitar nosso tempo. Mas não devemos esquecer que a vida é composta de pequenos prazeres. Eles foram colocados aqui para nos estimular, nos ajudar em nossa busca, nos dar momentos de repouso, enquanto travamos as batalhas diárias. Não existe nenhum pecado em ser feliz. Não existe nada de errado em, uma vez ou outra, transgredir certas regras de alimentação ou de alegria. Não se culpe se, de vez em quando, você perde tempo com bobagens. São os pequenos prazeres que nos dão grandes estímulos.
Quando eu era criança, essa história era apenas uma piada. Mais tarde, descobri que muitas vezes agimos assim. “Um sujeito está dirigindo uma luxuosa Mercedes Benz quando o pneu fura. Ao tentar trocá-lo, descobre que falta o macaco. ‘Bem, vou até a primeira casa e peço emprestado’, pensa ele: ‘Talvez, o sujeito, vendo meu carro, queira me cobrar algo pelo macaco’, diz para si mesmo logo depois. ‘Um carro como este e eu precisando de macaco... Vão querer me cobrar uns R$ 20, pelo menos. Não, talvez cobrem até R$ 50. O cara vai perceber que estou numa grande furada. Já vi tudo, vai aproveitar e tentar me tirar R$ 100’.
As pessoas repararam que o rabino Shelomo começou a passear por lugares de péssima fama. Os fiéis começaram a pensar e comentar que o rabino havia abandonado a busca espiritual e que agora só desejava divertimento. As conversas circularam e ninguém mais queria freqüentar a sinagoga. Um rapaz resolveu advertir o rabino: “O senhor freqüenta lugares suspeitos e as pessoas não gostam disso”. O rabino responde ao jovem: “Se você quer tirar um homem da lama, não basta estender a mão de longe. A solução é também entrar na lama e puxá-lo para fora”.
Vivemos cercados por culpa. Nos sentimos culpados pelo que há de autêntico em nós: opiniões, desejos ocultos, maneira de falar. Nos sentimos culpados até mesmo por nossos pais e irmãos. O resultado é a paralisia total. Ficamos com muita vergonha de fazer coisas que sejam diferentes do que esperam de nós. Com isso, acabamos não expondo nossas idéias e sempre justificamos dizendo a mesma frase batida: “Jesus sofreu e o sofrimento é necessário”. O único problema é que, com desculpas deste tipo, o mundo inteiro não consegue seguir adiante.
Freud diz que os erros são, na verdade, uma maneira que temos para castigar a nós mesmos. Sabemos o alto preço que vamos pagar e o sofrimento que nosso gesto poderá trazer. Mesmo assim, fazemos o que não deveríamos. A mulher feia se torna ainda mais feia, pois não conseguiu encontrar ninguém. O solitário tranca-se em casa, já que não tem companhia. O alto executivo enfarta, mas continua trabalhando demais.
Em New Jersey, nos Estados Unidos, visitei os famosos laboratórios de Thomas Edison em Menlo Park. Ali, estavam os instrumentos que usou trabalhando nas invenções que mudaram o mundo (o fonógrafo, por exemplo, precursor dos iPods). Ali, estavam também seus livros e objetos diversos. Mas a coisa mais curiosa e surpreendente era uma pequena cama, colocada no meio mesmo da área de trabalho. Ali, disse o guia que orientava a visita, Edison dormia um pouco, umas duas horas, mas somente quando estava muito fatigado. Em seguida, voltava ao trabalho. Para ele, sono era sinônimo de preguiça. Dormir muito seria tão prejudicial à saúde como comer muito.
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