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Artigos

  • A aranha é o caos para a mosca

    O Globo, em 23/07/2023

    O sucesso de Xuxa na televisão e no resto do Brasil corresponde, mais ou menos, ao tempo entre o fim da ditadura cívico-militar que começou em 1964 e a redemocratização em 1985, com a vitoriosa candidatura de Tancredo Neves à presidência. Esse é um período em que a população começa a abandonar a admiração pelo que os ditadores prometiam ao povo brasileiro no auge da implantação do regime de exceção.

  • Como nossos pais

    O Globo, em 16/07/2023

    Imagine a cena. Lady Gaga chega para ver a estreia de “Coringa”, um filme que já era um mito público, mesmo antes de ser feito. Devo dizer que não compactuei com o mito e, quando o filme foi realizado e distribuído pelo mundo afora, reagi irritado com seu despudor, sobretudo por causa do personagem principal, que justifica sua falta de caráter pelo modo com que é tratado pelos outros.

  • O bom, justo e revolucionário hábito léxico

    O Globo, em 09/07/2023

    Eu tinha prometido a mim mesmo não falar mais de mortes, sobretudo as de gente de minha geração. Mas ela já está mesmo indo embora e, dessa vez, quem se encantou foi nosso grande José Celso Martinez Corrêa. Repito aqui o que o presidente Lula disse dele: “O Brasil se despede hoje de um dos maiores nomes da história do teatro brasileiro, um de nossos mais criativos artistas”.

  • Quem deve mandar no Brasil

    O Globo, em 02/07/2023

    Isso tudo se dá num momento em que se espalha pelo mundo um novo pensamento antinatalista, parte de ideias que correm por aí graças às desigualdades sociais, às lastimáveis diferenças entre países e à distância entre camadas distintas da população de cada um deles.

  • Aquilo que se vê

    O Globo, em 25/06/2023

    Não é que o Brasil esteja à nossa disposição. Mas vamos acreditar que podemos escolher o caminho. Aí, quem sabe, um dia chegaremos lá.

  • Diferentes revoluções

    O Globo, em 26/03/2023

    Conheci Jean-Luc Godard em Paris, quando o Cinema Novo começou a ser conhecido por lá e eu estava me escondendo da ditadura militar com Nara Leão, então minha esposa. Sem chamar a atenção de ninguém, ele me perguntava sempre que revolução desejávamos fazer com o cinema no Brasil. Bem informado, Godard sabia do que se passava no Brasil, tinha certeza de que o cinema não era a única coisa de que o país estava necessitado. E lembrava a população brasileira morta de fome.

  • O dia em que me dei aos outros

    O Globo, em 12/03/2023

    Eu devia ter uns 13 para 14 anos de idade e tinha amigos que frequentavam o cinema brasileiro. Alguns, como eu, faziam isso quase que secretamente, para que não soubessem dessa fraqueza. Tinha vergonha do que se contava na tela, considerava tudo aquilo uma falta do que filmar, como havia eventual falta do que dizer ou fazer. Tinha vergonha dos roteiros cheios de furos, dos artistas em busca do que expressar, dos efeitos vagabundos, de tudo. Acho que foi por aí que me tornei cineasta, um cineasta brasileiro.

  • Aquela companhia

    O Globo, em 05/03/2023

    No ano passado, perdi alguns amigos que faleceram por motivos diversos. Uns vinham de longa dificuldade física, outros simplesmente perderam de repente a condição de ficarem vivos. Não sei se alguém sobrevive a um choque desses que acabam com a gente vindos de órgãos que nem supomos estarem a perigo. Como os ataques cardíacos de corações maltratados, surpresas súbitas vindas de onde mal esperamos.

  • A rapidez do Brasil

    O Globo, em 19/02/2023

    Acho que, ao contrário do que a gente pensa e diz, tudo no Brasil acontece numa velocidade que, para o bem ou para o mal, não tem semelhança no resto do mundo. Ninguém sabia direito quem era Jair Bolsonaro e ele foi eleito presidente do país. O que quase acontecia de novo agora, quando tentou se reeleger e foi derrotado por Lula que, por sua vez, poucos meses antes se encontrava na prisão para onde fora enviado pela Lava-Jato, que havíamos elogiado tanto durante sua curta existência.

  • Lumiar outra vez

    O Globo, em 12/02/2023

    No campo de Minas Gerais, o verbo “lumiar” significa acender, iluminar, clarear, botar fogo em volta. Foi isso que sempre fizemos em nossos filmes dos anos 1960 em diante. Aquilo tudo era chamado de Cinema Novo e não tinha muita regra, o negócio era filmar o Brasil como a gente achava que ele era, a partir de sua cultura popular e sobretudo do que se encontrava diante de nossos olhos. E, se possível, fazer isso de um jeito original, como se estivéssemos inventando o cinema.

  • Caçando sapo

    O Globo, em 04/02/2023

    No campo de Minas Gerais, o verbo “lumiar” significa acender, iluminar, clarear, botar fogo em volta. Sempre num sentido de muito mais clareza do que aquilo que jornalistas e cronistas do país inteiro costumam esconder por trás de suas odes musicais ou princípios traduzidos pela literatura. A palavra tomou um rumo muito mais de celebração do que ela mesma é isso.

  • Ser moderno

    O Globo, em 28/01/2023

    A história do mundo tem sido contada a partir de um formato consagrado nesses últimos séculos por cientistas sociais de respeito. Mas enquanto esses pensadores enlouquecem tentando desvendar a crise entre indivíduo e sociedade, os brasileiros reivindicamos a originalidade absoluta de nossos costumes, hábitos e hinos que afirmam nossa diferença. Vivemos nossa abençoada vagabundagem cantando cantigas originais, organizando relações sociais só nossas, pensando livremente sobre o que for.

  • Aos cuidados de Dona Margareth

    O Globo, em 08/01/2023

    Um país só existe como país quando é capaz de produzir uma cultura própria, alguma coisa que o diferencie dos outros. Repito: uma cultura própria que dirá primeiro o que ele é. E depois o que ele quer ser.