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Política e Academia

 

Venho acompanhando há mais de vinte anos a singular trajetória do Fórum Nacional, obra notável do grande brasileiro que é João Paulo dos Reis Velloso. Consolidado como espaço público dos mais relevantes para o debate de ideias e a formulação de propostas voltadas para o crescimento, o desenvolvimento e a modernização do Brasil, tem prestado relevantes serviços ao país.


O Fórum trouxe em ato acontecido na ABL, de modo aberto e construtivo, contribuição ao próximo governo: na forma de uma proposta de plano nacional de desenvolvimento que será apresentada aos principais candidatos a presidente. É contribuição ao Brasil.


A Academia cede pois, de muito bom grado, suas dependências para este Fórum Especial.


Nos últimos anos, a Academia tem discutido e debatido a questão do desenvolvimento nacional, sobretudo no âmbito do "Seminário Brasil, brasis": em seus vários prismas, o econômico, o social, o político-institucional, o cultural, o ambiental.


Sou dos que pensam o mundo como um fato  da cultura - cultura em seu sentido antropológico. E vejo o desenvolvimento como processo essencialmente cultural porque produto de incontáveis intervenções humanas. Processo avesso às uniformidades e aos conformismos. Que favorece a mudança e a diferença. Que amplia e dinamiza o vasto campo da experiência humana em sua busca incessante do mais e do melhor.


Fenômeno plural, o desenvolvimento é civilização, é cultura. Faz a própria História. A nossa História, futuro nosso, criação coletiva, compartilhada, vivida.


Pedimos aos candidatos a presidente da República e convidados que se sentissem em casa, naquela Casa, que fossem profícuos os resultados de mais uma iniciativa do Fórum Nacional e recordassem que acrescia ao prazer e a honra de recebê-los, o fato de que estamos a comemorar o Ano Joaquim Nabuco, presente a transcendência da vida e da obra de um dos nossos fundadores.


Nabuco é uma das superioridades da vida pública do Brasil. Por isso asua intuição do papel da Academia foi luminosa e fecunda. Deixou claro que não deveríamos nos ater à cultura da ilustração, para não dizer cultura puramente acadêmica.


De igual sorte, não entendeu a libertação dos escravos como ato que desconhecesse a necessidade de inclusão social dos libertos. Joaquim Nabuco não pensou apenas na mudança do status do negro mas da transformação. Não apenas mudança, mas transformação.


Nossa Academia tem posição fundamentalmente apartidária, absolutamente apolítica, tanto no plano interno como no espaço internacional. Essa posição, consideramo-la intocável. Mas, na lição de Silvio Romero, temos obrigação de como uma grande artéria, acompanhar o pulsar da nação.


Em matéria de eleições já nos bastam as eleições acadêmicas, que Graça Aranha via assim, e eu repeti na tentativa de conclusão amena de nota introdutória naquele dia:

"Nada interessa tanto à vida acadêmica como uma eleição. Parece que aqueles homens, escapos da política, mas guardando fielmente o espírito eleitoral brasileiro, desforram-se em eleger confrades, exercendo um privilégio, quando raramente votam fora da Academia... Na Academia, o sentimento eleitoral é o mais ativo de todos e a Academia Brasileira, graças a seu quociente de mortos, jamais foi uma academia morta. Os abençoados mortos deram-lhe a mais preciosa das vidas, a vida eleitoral."


Por fim, pedi ao Ministro João Paulo dos Reis Velloso que desse as ordens.


Diário de Pernambuco, 15/8/2010