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Olhar itinerante

 

Quando escrevi, já faz tanto tempo, o meu livro Em torno da sociologia do caminhão tinha exata noção de que haveria de ainda ler muito sobre o tema pelo qual tanto me apaixonei.


 


Há um provérbio hindu que recomenda somente falar quando isso vier a ser melhor que o silêncio. Depois da provocação da leitura do livro Olhar Itinerante, resolvei quebrar o silêncio recomendável e tentar dar um depoimento mais do que entusiasmado.


 


O leitor irá encontrar nele os calos do trabalho de quem o compôs com palavras e imagens. É livro vivido, sofrido, comparado. Por isso, merecedor da mais categórica recomendação. O livro é ricamente ilustrado. É bom de ver.


 


Quem viveu ou tem notícia do esforço caminhoneiro pelo crescimento econômico e também pelo desenvolvimento social do País, encontrará comprovações de grande interesse.


 


O dionisíaco caminhão brasileiro que já foi elemento civilizador assume agora papel diferente, mas sem perder esse tipo de identidade, pois falar de Brasil é falar de brasis.


 


Dá gosto confrontar e sentir tanta mudança, ao longo desses anos em que o transporte rodoviário de carga – o de passageiros, também – seguiu a inexorabilidade do tempo. Mudou. Mais do que mudou, transformou-se.


 


Não detalharia o que distingue o meu velho livro desse novo livro, que isto seria inadequado, mas insisto em dizer que é feliz o documento vivo que o leitor encontrará.


 


Livro desse tipo apenas ganha autoridade expositiva se amparado em experiência sem retinas intermediárias.


 


Fotografar ou dissertar sobre o caminhão e o seu motorista exige que se veja, que se ouça, que se viaje, que o autor se exponha a uma espécie de corpo-a-corpo, que até estabeleça uma relação algo orgânica com os dois e tenha um olhar itinerante.


 


Sinto que foi assim.


 


Estou animado a sugerir que seja lido com os olhos da curiosidade, atento até ao que encontrar nas entrelinhas, pois o escritor gosta desse tipo de “provocação”, como denunciam trechos instigantes do seu trabalho.


 


Uma palavra de louvor, ainda, pela decisão de apoiar a publicação desse ensaio que se incorpora definitivamente à sociologia brasileira do transporte.


 


Jornal do Commercio (PE) 15/6/2006